Título: Supertele planeja investir R$ 30 bilhões
Autor: Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 30/05/2008, Empresas, p. B3

Luiz Eduardo Falco, presidente da Oi: investimentos no exterior não precisam necessariamente ser recursos próprios O presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, detalhou ontem a estratégia de internacionalização da futura "supertele" nacional e revelou que o planejamento é investir cerca de R$ 30 bilhões no exterior ao longo dos próximos cinco anos. Segundo ele, trata-se de um cálculo que pressupõe investimento de R$ 1 mil para a conquista de cada novo cliente.

Ao fim dos cinco anos, a intenção da Oi é ter uma base de 110 milhões de clientes, dos quais 30 milhões em outros países. Esse número abrange a atuação em telefonia fixa, telefonia celular, banda larga e televisão por assinatura.

Para o executivo, a expansão internacional da Oi - após a concretização da compra da Brasil Telecom (BrT) - é uma necessidade imposta pela realidade de consolidação do setor. "Existe o grupo de países que atropelam e o dos que são atropelados. O Brasil precisa decidir em qual dos lados quer estar", assinalou Falco.

Em função de um novo pedido de vistas - desta vez pelo conselheiro Antônio Bedran -, a diretoria da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) voltou a adiar uma decisão sobre o novo Plano Geral de Outorgas (PGO) da telefonia fixa. Mudanças no plano, que hoje veta a união entre concessionárias de áreas distintas, são necessárias para permitir a aquisição da BrT pela Oi.

Em audiência pública na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, Falco pediu que não haja restrições ao fechamento do negócio. "O que é bom não precisa de condicionamentos", afirmou, para contrariedade de uma parte dos deputados.

Pouco antes, o executivo havia traçado um cenário positivo para as tarifas, procurando afastar o temor de que a diminuição da concorrência trará aumento de preços. "Todo ganho de produtividade é repassado ao consumidor em tarifas menores", frisou o presidente da Oi.

Falco colocou a futura empresa de telefonia como "grande candidata" a oferecer uma plataforma de conteúdo às 250 milhões de pessoas no mundo que falam português, definindo Portugal e países africanos como alvos da ofensiva internacional.

Ele deixou claro também que países latino-americanos, como Argentina e Venezuela, são prioridades imediatas nessa estratégia. Mas lembrou que a nova operadora precisará cercar-se de cuidados em suas táticas. "A Telefónica tentou entrar no México e, US$ 10 bilhões depois, conseguiu não mais do que 10% de market share."

O executivo adiantou que os investimentos no exterior "não precisam necessariamente usar recursos próprios" e podem contemplar, por exemplo, alternativas como a troca de ações com empresas estrangeiras para impulsionar a internacionalização da BrT-Oi. Na maior parte dos casos, previu Falco, a operação da companhia brasileira em outros países deve começar do zero. Ele afirmou que há poucos ativos à venda depois da expansão da mexicana Telmex e da espanhola Telefónica na região. " Isso tirou muitos ativos da mina para aquisições rápidas", diagnosticou Falco, que brincou com prioridades de expansão. "O que queremos é comprar um monte de coisa barato pra caramba. O problema é que mais gente também quer."

Falco insistiu em que a compra da BrT pela Oi não provocará concentração no mercado nacional e rejeitou a possibilidade de "unbundling" (o compartilhamento da infra-estrutura física, centrais e cabos telefônicos das operadoras). Essa é uma medida defendida, por exemplo, pela TIM, durante o processo de revisão do marco regulatório. "Na Alemanha e nos Estados Unidos, fizeram isso e tiveram que voltar atrás. A facilidade de entregar (serviços) de graça inibe o investimento", ressaltou Falco. "E o Brasil ainda é um país que está construindo sua infra-estrutura."

A apresentação do executivo despertou reações variadas entre os parlamentares que acompanharam a audiência. "Saímos do monopólio público para o monopólio privado", atacou Ivan Valente (PSOL-SP), lembrando sua posição contrária à privatização do setor, em 1998. O deputado Júlio Semeghini (PSDB-SP), apesar do apoio que garantiu dar à fusão, ressalvou que "quando olhamos o mercado internacional, (a BrT-Oi) ainda é um grupo pequeno e desproporcional". Se confirmado o negócio, a "supertele" nacional ocupará apenas a 30ª colocação no ranking global das operadoras de telecomunicações.