Título: Setor de infra-estrutura deve ser maior beneficiado
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Fonte: Valor Econômico, 30/05/2008, Investimento, p. D2

Mendes, do Itaú: o mercado já havia antecipado o segundo grau de investimento O novo selo de grau de investimento confirma a boa expectativa para o mercado brasileiro e deve aumentar a oferta e reduzir as taxas de financiamento de longo prazo das empresas brasileiras, beneficiando principalmente as que dependem de crédito. Nessa linha, o setor mais beneficiado seria o de infra-estrutura, em que os investimentos são grandes, de retorno demorado e mais dependentes de financiamentos, avalia Walter Mendes, diretor responsável pela área de renda variável do Itaú. "Geração de energia, estradas, portos, ferrovias, máquinas e equipamentos saem ganhando", diz.

Mendes considera normal a queda do Ibovespa ontem. "É um exemplo clássico da máxima que a bolsa sobe no boato e cai no fato". Para ele, o mercado já havia antecipado o segundo grau de investimento, quando a bolsa subiu de 65 mil para 73 mil pontos. O segundo selo não modifica a projeção do Itaú para o Ibovespa no fim do ano, perto de 80 mil pontos, afirma.

A queda de ontem mostra que o mercado começa a realizar lucros, já que a bolsa vinha subindo à espera do "investment grade" da Fitch Ratings, diz Rogerio Betti, da consultoria Beta Advisors. "A partir de agora, não será natural o Ibovespa subir da casa dos 70 mil pontos para os 80 mil sem parar, sem qualquer realização."

Na visão de Mendes, agora outros fatores podem determinar nova alta da bolsa, entre eles novas descobertas de campos de petróleo pela Petrobras, como a de ontem, uma decisão do governo de elevar o superávit primário ou ainda uma nova alta das commodities.

Antes, o que se via é que o mercado brasileiro se mostrava bastante descontado ante os outros emergentes, mas agora isso diminuiu consideravelmente, avalia Roberto Knoepfelmacher, diretor de análise da GAS Investimentos. O que mostra que boa parte da alta por conta da obtenção do grau de investimento já havia sido incorporada pelo mercado, diz.

Muito dos investimentos estrangeiros que viriam para o Brasil por conta do grau de investimento já desembarcaram por aqui no ano passado e neste ano, por isso a queda da bolsa ontem não foi surpresa, diz Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria. "Esperamos a continuidade de fluxos robustos externos, mas não um salto, uma disparada", diz.

Para ela, o fluxo de estrangeiros para bolsa não deverá mudar, até porque as decisões dos fundos de pensão estrangeiros são tomadas uma vez por ano e a aplicação é feita gradualmente, diz. Muitos fundos hoje já têm uma fatia destinada aos emergentes e o que deve acontecer é que a parcela de Brasil deverá crescer um pouco nessa fatia. "Mas isso demora, não é um salto".

A estrategista de investimentos do UBS Pactual Wealth Management, Juliana Centurion Braga, comenta que, no longo prazo, o lucro líquido de empresas de menor porte na bolsa pode aumentar, porque será mais fácil para elas ter acesso a financiamentos, principalmente no exterior.

Para Juliana, a oscilação da bolsa brasileira deve ser reduzida a partir de agora, com a previsibilidade maior dos fluxos de investimentos para cá. "A volatilidade daqui ainda é enorme e isso é levado em conta nos cálculos de risco", diz.

Já no dólar, Alessandra, da Tendências, acredita que a moeda pode, no curto prazo, cair e testar o piso de R$ 1,60, até pela maior entrada de investimentos diretos. "Mas a piora das contas externas acaba segurando o dólar, que deve terminar o ano perto de R$ 1,65 e subir para R$ 1,70 em 2009", diz.

Nos juros, a economista diz que o impacto do grau de investimento é maior nos prazos mais longos, para 2010 em diante. Mas no curto prazo, nada muda na decisão do Banco Central de subir as taxas para combater a inflação. "O dólar não cai, não se sabe para onde vão as commodities, então a pressão de inflação continua", lembra ela, que estima uma taxa Selic de 14,25% no fim do ano. Ela considera arriscado o investidor ficar em papéis prefixados pela incerteza com inflação. "O melhor para pessoa física pode ser LFT ou papéis indexados à inflação", diz. (Colaboraram Luciana Monteiro e Danilo Fariello)