Título: BC volta à carga sobre juros
Autor: Martins, Victor ; Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 13/02/2011, Economia, p. 13

Conjuntura Expectativas do mercado pioram às vésperas da reunião do Copom, que deverá elevar a taxa Selic de 11,25% para 11,75% ao ano

O tranco que o Banco Central está dando na economia vai ser intensificado na próxima semana, quando ocorrerá a segunda reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom). A aposta da maioria dos analistas é de que o aperto na taxa básica de juros (Selic) será de 0,5 ponto percentual. Ainda assim, tal medida é considerada insuficiente para fazer com que as expectativas dos economistas deixem de piorar. Pelo Boletim Focus, pesquisa semanal feita pelo BC com mais de 100 especialistas, as projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) sobem há 11 semanas seguidas. Ontem, elas chegaram a 5,79% e devem continuar pessimistas pelo menos até o fim de março, aproximando-se assim do teto da meta de inflação, fixado em 6,5%.

Com a inflação vindo mais alta do que o esperado, o mercado está pagando para ver se o governo vai dar conta de fazer o tão anunciado ajuste fiscal na casa dos R$ 50 bilhões. ¿O estresse é grande¿, disse um economista, que aponta o percentual de 0,75 como o ideal para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) ¿ marcada para 1º e 2 de março. A taxa Selic está em 11,25% ao ano.

A deterioração do cenário e as incertezas com relação ao corte de gastos públicos já levam alguns especialistas a elevarem a projeção de alta da taxa de juros de 0,5 ponto percentual para 0,75. Até alguns dias atrás o aumento de 0,50 era praticamente unanimidade. Agora, embora a maioria ainda aposte nesse percentual, há quem acredite que o 0,75 será pelo menos cogitado durante o encontro periódico dos diretores do BC.

¿O Copom deveria elevar a taxa em 0,75, mas não vai fazer isso, o que poderá prolongar por um período maior esse novo ciclo de aperto monetário¿, avaliou um economista. Na visão de alguns especialistas, o mercado está afrontando a autoridade monetária para tentar conseguir a elevação da Selic. O Banco Central, por sua vez, vem garantindo que está atento às expectativas, mas já tem desenhada a estratégia contra a inflação e só irá alterá-la caso o cenário econômico brasileiro piore mais intensamente. ¿Se o BC tivesse de sentir pressão de algum lugar, viria do gabinete da presidente Dilma Rousseff¿, ponderou Márcio Cardoso, diretor da Título Corretora. ¿O mercado não vai ditar o que vai ser feito, mas ele está testando¿, emendou.

Orçamento Para Flávio Serrano, economista do Espírito Santo Investiment Bank, apenas se o corte no orçamento não passar por manobras ou maquiagens fiscais é que as expectativas do mercado deixarão de piorar. A inflação também só dará trégua quando a gastança do governo for reduzida. ¿O BC sempre fala que é uma premissa essencial um ajuste fiscal. Se o prometido pelo governo não for verdade, será necessário subir a Selic mais do que o planejado¿, avaliou Serrano.

Já o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, avalia que o mercado está exagerando na previsão de alta da inflação. ¿Ainda assim, por causa disso, não acho que o Copom tenha que replicar esse aumento¿, advertiu o especialista. José Francisco disse que o Copom repetirá na reunião de março o percentual de ajuste de janeiro: a correção em 0,5 ponto percentual elevaria a taxa Selic dos atuais 11,25% para 11,75% ao ano.

Além da questão dos gastos, a autoridade monetária está preocupada com o preço das commodities (matérias-primas produzidas e comercializadas em escala mundial). Sem controle sobre as oscilações dos mercados internacionais, o BC só pode observar os impactos da alta desses produtos, principalmente na mesa do brasileiro. Nas últimas semanas, vários indicadores da Fundação Getulio Vargas (FGV) têm mostrado os preços no atacado em disparada. Pelo Índice Geral de Preços ¿ Mercado (IGP-M), esses itens encareceram 1,84% no ano até a segunda semana de fevereiro.