Título: Brasileiros em espera tensa
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 22/02/2011, Mundo, p. 20

Com o aumento da violência e a ausência de controle administrativo em Benghazi, cresce também a dificuldade do governo brasileiro para negociar a retirada dos 123 cidadãos que vivem na cidade, a cerca de mil quilômetros da capital. Em entrevista ao Correio, o embaixador do Brasil na Líbia, George Ney de Souza Fernandes, disse esperar que a retirada seja feita hoje. Bengazhi é palco dos mais violentos confrontos, e a situação se complicou ainda mais, ontem, com o fechamento do espaço aéreo em Trípoli ¿ reaberto no fim da noite.

O embaixador esteve em Benghazi no sábado, reuniu-se com os brasileiros e explicou que está difícil conseguir a autorização do governo líbio para a saída. ¿Benghazi está sem governo, sem controle. Esse é o perigo¿, disse, já de volta à capital. O diplomata garante, entretanto, que os brasileiros estão bem, apesar do nervosismo e da aflição. Todos são funcionários da construtora Queiroz Galvão e seus familiares. A empresa já fretou um avião, que depende da solução do impasse burocrático.

Um dos retidos em Benghazi é o carioca Roberto Azevedo Roche Moreira Júnior, 52 anos, gerente de Saúde, Segurança e Meio Ambiente da construtora, na Líbia há dois anos. Ele, a mulher, Débora Kloeppel, e os filhos ¿ Marina Roche Moreira, 16, e Bernardo Roche Moreira, de 5 ¿ estão com mais 40 pessoas na residência do diretor-geral da empresa no país, Marcos Jordão. Segundo relato de outra filha de Moreira, a jornalista Mariana Hansen Roche Moreira, que está no Brasil, a família está bem, embora tensa. Na última vez que conversou com o pai, por telefone, no domingo de manhã, Moreira relatou que os brasileiros têm água e comida estocados, mas a situação na cidade está insustentável e o medo é de que o Exército bombardeie as ruas. ¿Estamos vivendo um momento de muita angústia, um sentimento de impotência, sem saber o que vai acontecer amanhã¿, desabafa Mariana, que diz esperar mais do governo brasileiro. ¿O Itamaraty respondeu que está negociando, mas tudo continua na mesma. Quero saber qual é o plano B.¿

O número de brasileiros que vivem na Líbia, segundo o Ministério das Relações Exteriores, fica entre 500 e 600. A maioria trabalha para quatro empresas: Andrade Gutierrez, Odebrecht e Petrobras, além da Queiroz Galvão. Somente a última tem funcionários em Benghazi. A Odebrecht informou, por meio de nota, que ¿vem tomando todas as providências para a retirada de seus trabalhadores e familiares¿ e que, ¿até o momento, não há registro de qualquer incidente com seu pessoal¿. A Andrade Gutierrez disse estar ¿acompanhando desde o início a evolução da situação política¿ na Líbia e mantendo ¿contatos com embaixadas, secretarias de Estado e com o Itamaraty¿ para providenciar a retirada de seus funcionários e familiares. O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, informou que a estatal tem menos de 10 funcionários no país, na área da capital, e garantiu que até esse ponto os protestos não colocaram em risco o pessoal da empresa.

Falando durante um evento em São Paulo, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, condenou a violência contra os manifestantes na Líbia e disse ver ¿com preocupação¿ o desenrolar dos acontecimentos.

Futebol O Brasil está representado na Líbia também pelo técnico da seleção nacional de futebol, Marcos Paquetá, que trabalha com uma equipe de brasileiros, entre preparadores físicos, médicos e outros profissionais. Ricardo Eron é o técnico de um dos maiores times do país, o Ahli Tripoli. Segundo o embaixador Fernandes, todos estão bem.