Título: Pecuaristas no Cade contra indústrias
Autor: Juliano Basile e Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 18/02/2005, Agronegócios, p. B10

Pecuaristas de oito Estados darão nesta sexta-feira, em Goiânia (GO), o primeiro passo para formalizar uma denúncia contra os cinco principais frigoríficos do país por formação de cartel na compra de gado. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) pretende reunir mil pecuaristas para encaminhar a abertura do processo na Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça. Diante da pressão, fontes do setor crêem que deve surgir uma proposta de negociação. Pode ser criado inclusive um grupo misto de trabalho composto por pecuaristas, frigoríficos e varejistas. "Não há volta atrás. Vamos até o fim nessa investigação", disse Antenor Nogueira, presidente do Fórum de Pecuária de Corte da CNA. Ele acusa os frigoríficos de criar uma "tabela-padrão" com critérios e deságios idênticos para todas as regiões e mercados sem distinção. Se for comprovado o envio das cartas, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que julga as investigações concluídas pela SDE, deverá multar os frigoríficos em até 30% do faturamento. "Este padrão de comportamento é passível de análise, pois trata-se de um movimento aglutinador de concorrentes que restringe a atividade comercial", afirmou Ruy Coutinho, presidente da Latinlink Consultoria, que assessora a CNA no caso. O problema, disse, é que os frigoríficos concentram 80% das exportações. E a batalha pode repercutir fora do país. Se os europeus, que absorvem 30% dos embarques brasileiros, considerarem que compram de um cartel, podem querer investigar o Brasil. Nogueira disse que as indústrias se reuniram em 26 de janeiro para determinar padrões comuns de abate dos animais, além de criar critérios iguais de preços e deságios. A carta foi enviada às filiais das indústrias e corretores. "Eles fixaram deságios iguais de 3% para animais de 15 a 16 arrobas". Segundo ele, a carta estabelece que animais não-rastreados teriam deságio de R$ 3/arroba. Para vacas e novilhas, os preços podem cair entre 5% e 10%, segundo seu peso. Preocupado com o rumo das discussões, o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Antonio Camardelli, diz que está disposto a auxiliar nos debates: "O formato não foi dos melhores, mas temos parcerias com os pecuaristas".