Título: Demanda cresce, mas é localizada
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 18/02/2005, Finanças, p. C1

A Brasilata, indústria que confecciona embalagens de metal para produtos químicos, aerossóis e produtos alimentícios secos (como chocolate e leite em pó), está pleiteando R$ 12 milhões nos bancos, em linhas de crédito do BNDES, para investir na expansão de sua fábrica em São Paulo, contou Antonio Teixeira Álvares, diretor superintendente da empresa. No ano passado, ela produziu 46 mil toneladas de embalagens, 4% mais que em 2003. Por causa da alta dos preços do aço, seu faturamento cresceu 20%, para R$ 279 milhões. "Com o crescimento da economia, temos que investir", justifica Teixeira. A Brasilata é um exemplo do perfil de empresa que está movimentando o crédito para pessoas jurídicas nos bancos, na definição do superintendente executivo do Banco ABN AMRO, Alexandre Azevedo. Segundo ele, enquanto as grandes corporações estão cautelosas, preferindo operações financeiras relacionadas ao comércio exterior ( "trade finance"), as médias empresas, com faturamento na faixa de R$ 200 milhões a R$ 600 milhões, estão com muita demanda no banco por recursos para expandir fábricas, adquirir máquinas e até outras empresas. Não é motivo de comemoração. A maior demanda por crédito, relatada pelo executivo do ABN, é bem localizada. Segundo levantamento da ABM Consulting, com base em dados do Banco Central (BC), os bancos tinham emprestado às empresas, no final de 2004, um total de R$ 158,3 bilhões. Isso significa que, enquanto o volume de empréstimos geral (pessoas físicas mais pessoas jurídicas) cresceu perto de 20% no ano passado, o ritmo de liberação de recursos para as empresas avançou apenas 16,3% nominais. Não é para menos, pondera Antonio Bornia, vice presidente do Bradesco: "O juro ainda está muito alto". As estatísticas do BC mostram que a taxa média geral das principais linhas de financiamento a empresas (capital de giro, conta garantida, aquisição de bens, vendor e hot money) recuaram apenas 5,1 pontos percentuais entre dezembro de 2003 e dezembro de 2004 (veja gráfico abaixo, detalhado por linha de crédito). Os dados de janeiro ainda não foram divulgados. Alexandre Azevedo, que comanda uma divisão do ABN responsável pelo gerenciamento do portfólio de empréstimos do banco a empresas com faturamento acima de R$ 30 milhões, explica que, no topo da pirâmide dessas companhias, os 100 maiores grupos econômicos têm alguma demanda por empréstimos em dólar, financiamento de exportações. Como a proteção cambial dessas operações no mercado de derivativos ("swap") encareceu muito desde o ano passado, o interesse não é tão grande. "Começa a sobrar linha para o banco, pressionando as margens", diz Azevedo. Por outro lado, essas grandes empresas foram beneficiadas com uma ampliação dos prazos de financiamento. No início de 2004, uma operação de pré-pagamento de exportações padrão era de três anos, se fosse um "bom crédito", poderia ir no máximo a cinco anos. "Hoje vai até sete anos" e com taxas até menores. "Apesar do preço caindo, o cliente 'prime' está atrás de arbitragem", afirma Azevedo. Já na metade da pirâmide, as empresas com faturamento de R$ 200 milhões a R$ 600 milhões anuais, o quadro é outro, relata o diretor do ABN. "Há muita atividade. Eles estão fazendo aquisição de empresas médias, expandindo fábricas, comprando novos softwares". O chamado "tíquete médio" (valor médio) dos projetos financiados por essas empresas varia entre R$ 30 milhões e R$ 50 milhões e a maior saída tem sido pela agroindústria, mas todos os setores econômicos têm procurado o banco. "Os clientes estão se alavancando", diz Azevedo. O perfil das operações é crédito de capital de giro, com base em operações da Resolução 2770 (antiga Resolução 63) ou linhas tradicionais para aquisição de bens. Os prazos variam de três a cinco anos - em média três anos, considerando as amortizações. Na base da pirâmide, as pequenas e médias empresas enfrentam o velho obstáculo do perfil de risco e das garantias, considerados insuficientes pelos banco. A Nossa Caixa, que opera basicamente com pequenas e médias empresas (faturamento anual até RS$ 1 milhão para pequenas e até RS$ 5 milhões para as médias), viu sua carteira de crédito crescer 19,3% no ano passado, para R$ 1,448 bilhão. Foi um ritmo ditado pelo esforço do banco em atingir novos clientes, e bem menor que o dos empréstimos para pessoas físicas, que cresceram mais de 30%, para R$ 2,690 bilhões. Rubens Sardenberg, diretor financeiro da Nossa Caixa, explica que a expansão da economia, concentrada em setores de bens de consumo duráveis e agronegócios, não atingiu os segmentos atendidos pela instituição - comércio e indústria de bens de consumo não duráveis (como alimentos e têxteis).