Título: Aumenta pressão contra a JBS nos EUA
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 03/06/2008, Agronegócios, p. B12

Fazendeiros americanos se mobilizaram nas últimas semanas para tentar frear a expansão do grupo brasileiro JBS nos Estados Unidos, num momento delicado em que ele está a um passo de se tornar o maior processador de carne do país mas ainda não conseguiu o sinal verde do governo para os seus planos. Muitos pecuaristas vêem o fortalecimento da JBS com apreensão porque ele tornará o setor ainda mais concentrado nos EUA, aumentando o poder do grupo brasileiro nas negociações com os criadores de gado e deixando os fazendeiros com menos opções na hora de vender seus bois para a indústria.

A JBS adquiriu no ano passado o controle da Swift e há três meses anunciou a aquisição de mais dois grandes processadores americanos, a National Beef Packing e a Smithfield Beef. As duas operações estão sendo analisadas pela Divisão Antitruste do Departamento de Justiça dos EUA. O grupo espera que o governo anuncie sua decisão até agosto.

Se as duas aquisições forem aprovadas, o JBS passará a ter capacidade para abater cerca de 42 mil cabeças de gado por dia nos EUA, o que lhe daria controle sobre mais de um quarto da capacidade de abate existente no mercado americano e deixaria para trás seus dois maiores concorrentes, a Tyson e a Cargill.

Nas últimas semanas, criadores que temem ser prejudicados pela consolidação da indústria recrutaram aliados nos governos dos seus Estados e no Congresso americano para pressionar o governo federal a ser mais rigoroso na análise das aquisições do JBS. Deputados e senadores escreveram cartas até para o presidente George W. Bush para chamar atenção para o caso.

A oposição ao grupo brasileiro é liderada pela R-Calf USA, uma associação que afirma ter mais de 12 mil pecuaristas filiados. A Associação Nacional dos Criadores de Gado (NCBA, na sigla em inglês), principal representante dos produtores americanos, não participa do movimento e tem acompanhado mais discretamente a discussão, dentro do governo, sobre os negócios da JBS.

Um dos principais fatores de preocupação para os fazendeiros é uma subsidiária da Smithfield chamada Five Rivers, cujo controle também será assumido pelo grupo brasileiro se a compra da Smithfield for aprovada. A Five Rivers é dona da maior operação de confinamento de gado dos EUA, com dez fazendas e capacidade para engordar mais de 1,5 milhão de bois por ano.

O controle dessa subsidiária tem valor estratégico para a JBS, porque pode ajudá-la a se retirar do mercado quando os preços cobrados por criadores de gado independentes lhe parecerem desvantajosos. Com a Five Rivers, o grupo poderia abater os animais disponíveis em suas fazendas e assim manter a operação das unidades em que a carne é processada.

Algumas fazendas da Five Rivers estão localizadas bem perto de algumas das principais fábricas do JBS. A empresa teria capacidade para atender 40% das necessidades da principal unidade industrial do grupo, em Greeley, no Estado do Colorado, e mais de 25% das necessidades de outras duas plantas do JBS, no Texas e no Kansas, de acordo com o economista Dillon Feuz, da Universidade Estadual de Utah.

Isso assusta os fazendeiros representados pela R-Calf USA e é por esse motivo que eles têm feito tanto barulho. A associação encaminhou ao Departamento de Justiça cinco petições com argumentos contra os planos da JBS e convenceu as autoridades de três Estados a abraçar a causa e enviar cartas para reforçar a pressão sobre o governo federal.

No início de maio, a associação conseguiu persuadir uma comissão do Senado americano a realizar uma audiência pública para discutir o caso. O presidente da JBS nos Estados Unidos, Wesley Batista, foi convocado para explicar suas intenções. Especialistas em geral simpáticos aos argumentos dos fazendeiros também participaram da audiência.

O senador que convocou a reunião, Herb Kohl, do Estado de Wisconsin, encerrou a audiência dizendo que a expansão do JBS no mercado americano poderá "prejudicar substancialmente" os criadores independentes e recomendou que o Departamento de Justiça pense melhor antes de aprovar as aquisições feitas pelo grupo brasileiro.

A audiência foi um desafio para Batista, um dos filhos do fundador do JBS, José Batista Sobrinho. O empresário chegou aos EUA há um ano e ainda tem grande dificuldade para se expressar em inglês. Ele prometeu que o grupo vai aumentar investimentos, gerar empregos e buscar novos mercados para a carne americana. "Eu e minha família gostamos muito de viver na América", disse Batista aos senadores. "Este é um grande país".