Título: Um olho lá, outro cá
Autor: Cotias , Adriana
Fonte: Valor Econômico, 03/06/2008, EU & Investimentos, p. D1

Entre a escassez global de matérias-primas para fazer frente à demanda de emergentes como a China e o apelo do mercado interno com o grau de investimento de baixo risco do país, os participantes da Carteira Valor ficaram com os dois. É o mix commodities com setores beneficiados do crescimento local que está refletido nas indicações das corretoras para junho. Depois da crise de liquidez internacional ter derrubado as ações menos negociadas, esses papéis começam a pontuar as listas de recomendações.

A alta dos juros e a indicação de papéis relacionados à expansão da atividade local está longe de representar uma contradição, especialmente após o Brasil ganhar o selo não-especulativo de duas agências de classificação de risco. A demanda agregada segue robusta, o emprego formal vem batendo recordes e ainda levará algum tempo para o recente ciclo de aperto monetário respingar no ritmo da economia, diz o estrategista da Unibanco Corretora, Marcelo Lima. Ele lembra que algumas empresas ainda estão respondendo à queda passada dos juros e que a melhora do ambiente internacional começa a chamar a atenção de ações menos líquidas, como as ordinárias (ON, com voto) da Weg. "É uma companhia sólida, que se beneficia do crescimento da demanda de energia elétrica e do aumento de investimentos em bens de capital."

No próprio setor elétrico, a aposta é em Tractebel ON, que ficou para trás com a polêmica sobre o preço da usina de Jirau, mas que, pelos cálculos da Unibanco, terá com o projeto uma taxa interna de retorno (TIR) de 12,5%, acima dos 9% esperados para Santo Antônio. Entre as inclusões do mês, Banco do BrasilON ganhou espaço não só pela possível incorporação da Nossa Caixa, mas principalmente pela esperada oferta pública de ações da Visanet, na qual o banco divide o controle com Bradesco e ABN Amro Real.

Com um preço alvo de R$ 33 (ante os R$ 24,15 atuais), Tractebel ON também é considerada a melhor opção no setor elétrico pela Itaú Corretora. A fornecedora de chassis de caminhões Iochpe-Maxion é outra opção ligada a mercado interno que teve os seus preços derrubados não por outra razão que a crise de liquidez internacional, diz o estrategista de pessoa física Fábio Anderaos de Araújo. Positivo ON é, porém, a principal aposta da corretora para junho (alvo de R$ 26,70). Em meio ao imbróglio sobre subsídios fiscais no Paraná, a companhia começa a se mexer para transferir parte da produção para Ilhéus e Manaus, onde, de fato, poderá contar com incentivos. "Como é um setor de margens estreitas, qualquer perda tem um efeito grande no resultado."

Em meio às pressões inflacionárias, que têm tirado o sono do governo Lula, CCR ON pode ser um papel defensivo, sugere o chefe de análise da Concórdia Corretora, Eduardo Kondo. Como os contratos de concessão de rodovias dos sistemas Bandeirantes e Autoban têm o IGP-M como referência para o reajuste de pedágios, as receitas ficam blindadas contra o aumento dos índices de preços, explica. Além disso, o tráfego nas estradas tem crescido num ritmo forte (7% no primeiro trimestre) e a companhia conta com geração de caixa constante, que tem potencial de ser ampliada com o aumento do PIB brasileiro. A Ativa Corretora incluiu Weg ON e Cemig PN.