Título: Para Mercadante, meta de inflação deste ano compromete crescimento
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2005, Brasil, p. A2

O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), criticou ontem duramente a política econômica em evento promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). De acordo com ele, ao dar prioridade a uma meta de inflação muito baixa (5,1% para este ano), o governo fica impedido de reduzir a carga tributária e de diminuir as taxas de juros. Além disso, provoca a valorização do real, o que pode comprometer o bom resultado das contas externas do país. "Se o governo persegue uma meta muito baixa, fora dos nossos padrões históricos, os juros sobem muito, aumentando a nossa dívida pública e nossa necessidade de financiamento, o que impede a redução da carga tributária. Os juros altos também servem para apreciar o câmbio, o que já está ocorrendo e que sempre teve conseqüências nefastas para a economia", disse. "Defendo a meta de inflação de 5,5% para 2005 e para 2006, com limite até 8%." Para ele, ao forçar uma queda abrupta da inflação, o governo compromete a economia. "Na história do país, só tivemos dois anos com inflação abaixo de 5,5%: em 1946, quando o governo Dutra queimou as reservas internacionais obtidas durante a Segunda Guerra e em 1998, quando o governo voltou a queimar reservas, porém de forma nunca antes vista", afirmou. Mercadante comparou a situação do país com a dos Estados Unidos. "Hoje há uma discussão acadêmica de que a inflação zero nos Estados Unidos, na verdade é obtida com um índice de 2,5%. Temos que pensar isso no Brasil também." Ele acredita que outro exemplo internacional para a equipe econômica é o Chile, que diminuiu a sua inflação de forma suave. Ele acredita que já foi um grande êxito o governo ter cumprido a meta de inflação do ano passado, mesmo dentro da margem. O IPCA ficou em 7,6% e o teto era 8%. "É melhor para o país cumprir uma meta e ter um crescimento forte como o que tivemos em 2004." Ele disse ainda que o importante é a inflação ficar abaixo de um dígito. Para Mercadante, a agenda legislativa do governo terá oito pontos prioritários: a continuação da reforma do Judiciário, a reforma tributária, o projeto das agências reguladoras, simplificação da abertura e fechamento de empresas, reforma sindical, alteração da tramitação das medidas provisórias, aprovação final da Lei de Biossegurança e aprofundar o debate da reforma política.