Título: Embarques de bens industriais para os EUA aumentaram 54%
Autor: Raquel Landim e Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2005, Brasil, p. A3

O comportamento das exportações e importações em janeiro contraria, por enquanto, as previsões de que a valorização do real em relação ao dólar derrubaria o bom desempenho do comércio exterior do país: a média diária das exportações do mês passado cresceu 28% em relação a janeiro de 2004, bem mais que as importações, que cresceram 24,8%. Pela primeira vez na história, a corrente de comércio (exportações somadas às importações) acumulada em doze meses ultrapassou US$ 160 bilhões. Chegou a pouco menos de US$ 162 bilhões. O crescimento das exportações se deu principalmente entre os bens manufaturados, como aviões, autopeças e calçados, cujos preços de venda sofrem maior impacto de desvalorização do dólar frente ao real. As vendas de manufaturados cresceram 46,2%, e o mercado que mais aumentou suas compras de mercadorias brasileiras foram os Estados Unidos: 54%, um aumento quase duas vezes maior do que o registrado nos meses de 2004. "O resultado de janeiro é um número falso, uma ilusão que não se sustentará", reagiu o diretor do Departamento de Relações Internacionais e de Comércio Exterior da Fiesp, Roberto Gianetti da Fonseca. Ele comenta que os exportadores firmaram contratos de venda seis meses antes, em condições mais favoráveis, com o dólar próximo a R$ 3,00, contando aplicar parte dos adiantamentos de contrato de câmbio no mercado financeiro, para compensar, com os juros altos do mercado interno, a perda de competitividade com a queda nas cotações da moeda americana. "Com o dólar a R$ 2,60 os exportadores não terão estímulo para fazer novos contratos de câmbio", diz Gianetti, que afirma já ter notícias de empresas do setor de autopeças com cancelamento de vendas a cliente nos EUA. Para o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), Ivan Ramalho, a diversificação da pauta de exportações brasileiras torna difícil vincular o resultado de um mês como janeiro às cotações do dólar no mesmo período. "As negociações de venda são feitas em momentos diferentes, em autopeças, por exemplo, contratos são fechados por três ou até cinco anos", comentou. A economista Mônica Baer, da MB Associados, concorda que a situação atual das cotações não se reflete no resultado do mês, mas fará efeito adiante. Seis meses antes da realização das exportações de janeiro, quando boa parte dos exportadores fechou seus contratos de adiantamento de câmbio, a cotação do dólar estava em R$ 3,03, lembra ela. Em junho, o dólar chegou a R$ 3,11, devido a incertezas no mercado internacional. Como em março começa a safra agrícola e tradicionalmente aumentam as vendas ao exterior, Baer acredita que só no segundo semestre - "talvez só no último trimestre" - do ano serão sentidos os efeitos negativos da valorização do real em relação ao dólar. "Quem já tem contratos deve segurar para manter a fatia de mercado conquistada, mas a cotação atual, somada ao crescimento do mercado interno, desencoraja a entrada de novos exportadores", analisa. As consultorias Globalinvest e RC Consultores também prevêem a continuidade dos bons resultados na balança comercial, com saldo de até US$ 27 bilhões. Há especialistas prevendo saldo de até US$ 30 bilhões, com exportações de US$ 110 bilhões, mostra o boletim Globalvisão, das duas consultorias. O governo mantém a previsão de US$ 108 bilhões em exportações neste ano, e não faz estimativa de importações, segundo Ramalho. O secretário afirmou que o resultado das exportações também surpreendeu o governo. "Esperávamos um aumento de 20%, mas foi além disso", comentou. As exportações devem crescer 12% neste ano, o que significa que não continuarão aumentando no mesmo ritmo de janeiro, acrescentou ele. Até agora, não há informações de mudança de projetos de negócios por parte dos exportadores, garantiu o secretário. "Imaginar que o câmbio não vá ter reflexos nas exportações é negar toda a teoria e as evidências estatísticas na história", criticou Roberto Gianetti. As exportações de produtos básicos, como carne e algodão, cresceram, em média, 1,7% apenas, desempenho que teve forte influência da queda na venda de minério de ferro, o principal item da pauta de exportações e de outros produtos, como farelo de soja. A queda nas vendas de ferro (5% em relação a janeiro de 2004) pode ser explicada por questões logísticas, como adiamento de embarques, já que o preço do produto aumentou 13,4% no mercado internacional e a demanda está em alta. O maior exportador brasileiro, a Vale do Rio Doce, não quis comentar o resultado. As vendas de semimanufaturados, principalmente produtos de ferro e aço e ferro fundido, cresceram 18%. Entre os manufaturados, os maiores crescimentos nas vendas ocorreram nas exportações de aviões (82%), motores automotivos (79%) e celulares (78%). As exportações para os países da América Latina, à exceção dos sócios do Mercosul, cresceram 51%, e para Argentina, 30%.