Título: Desempenho inédito da balança no mês surpreende mercado
Autor: Raquel Landim e Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2005, Brasil, p. A3

O bom desempenho das exportações brasileiras em janeiro surpreendeu o mercado. Os economistas começam a se convencer que está em curso uma mudança estrutural na economia, com as empresas consolidando sua posição no mercado externo. Os fabricantes de manufaturados garantem a alta dos embarques graças a ganhos de competitividade e à diversificação de produtos e destinos, que compensam a valorização do real. E ainda que tenham prejuízo com o câmbio, preferem não perder mercado. Os atrativos preços das commodities metálicas também contribuem. As exportações brasileiras atingiram US$ 7,44 bilhões em janeiro de 2005, valor recorde para esse período do ano e 28,3% superior a janeiro de 2004, segundo dados divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento. Assim, as exportações cresceram com maior vigor que as importações, que chegaram a US$ 5,26 bilhões em janeiro, uma alta de 24,8% ante janeiro de 2004. O saldo comercial ficou em US$ 2,18 bilhões, enquanto o mercado estimava US$ 1,8 bilhão. O resultado é o inverso do esperado por economistas, que apostavam em superávits menos robustos já a partir do início de ano. "O mercado vem sendo muito pessimista com relação ao desempenho das exportações", diz Julio Callegari, economista do JP Morgan, referindo-se à média projetada de US$ 100,8 bilhões pelos analistas ouvidos pelo Banco Central. O JP Morgan estima exportações de US$ 105,2 bilhões e saldo de US$ 26,9 bilhões para 2005. Callegari ressalta que a economia mundial está desacelerando, mas o ritmo ainda é considerado forte, com alta de 3,1% em 2005 ante 3,8% em 2004. E os principais consumidores de manufaturados brasileiros devem crescer acima da média: 3,6% no caso dos Estados Unidos e 3,9% na América Latina. Para Maurício Oreng, economista do Unibanco, está havendo uma "mudança estrutural" na balança que não é possível quantificar apenas por meio de câmbio, crescimento da economia e preço de commodities. "As empresas não estão mais utilizando o mercado externo apenas para compensar uma eventual demanda interna fraca", diz. Oreng atribui a força das exportações aos ganhos de competitividade das indústrias e ao esforço do governo para abrir mercados. O ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros também aponta mudanças importantes na estratégia das empresas provocadas pelo ingresso no mundo das exportações. Ele lembra que, para companhias exportadoras, o custo de capital é mais baixo e a carga tributária menor. Segundo Mendonça de Barros, o exportador consegue capital de giro a 3% ao ano. Desse modo, ainda que o câmbio esteja num nível pouco atraente, a empresa continua a exportar. Nesse cenário, as perspectivas para a balança comercial no curto prazo continuam positivas, mesmo com a valorização do real. A questão, para ele, é que o dólar barato pode afetar decisões de investimento ligadas a novos projetos de exportação. Mendonça de Barros acredita que o dólar tende a continuar em queda, podendo chegar a R$ 2,50. Juros elevados, num momento em que o país tem superávit em conta corrente, tornam o real uma opção de investimento atraente e segura. Fábio Silveira, sócio-diretor da MS Consult, ressalta o fato de que os produtos manufaturados, cujos embarques aumentaram 46,2% em janeiro, estão sustentando o crescimento das exportações. Os destaques ficam por conta de aviões, automóveis, autopeças e motores. Silveira lembra que esses setores possuem alta capacidade instalada, portanto, preferem seguir exportando, porque a redução do custo fixo neutraliza a queda do dólar, que está em R$ 2,60. "Mas esses atenuantes só devem durar até meados do ano se o dólar seguir nesse patamar", diz Silveira. Callegari diz que, pelo critério de média diária dessazonalizada, é possível perceber uma certa estagnação das exportações. A média saltou de US$ 332 milhões em janeiro de 2004, para US$ 421 milhões em junho e ficou em 425 milhões em janeiro de 2005. No resultado das importações, contribuiu a queda nas compras de combustíveis, cuja média diária caiu de US$ 74,1 milhões na primeira semana do mês para US$ 22,7 milhões na quarta.