Título: CBA estuda investimento de R$ 1 bi
Autor: Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 04/06/2008, Empresas, p. B1

Sem alarde, a Companhia Brasileira do Alumínio (CBA), faz estudos para um novo e grande investimento em sua da fábrica, situada em Alumínio, a 75 km de São Paulo. A empresa, uma controlada do grupo Votorantim que completa hoje 53 anos de operação, planeja instalar um moderno laminador de chapas, com vistas a atuar em dois importantes mercados - embalagens, como latas para bebidas, e automotivo. Os dois setores são os maiores consumidores de alumínio no mundo e no Brasil os que têm maior potencial de crescimento.

A empresa confirma os estudos, mas não fala em valores de investimento. Um equipamento desse porte - entre 500 mil e 600 mil toneladas por ano de capacidade -, que permite fabricar material de elevada resistência, não custa pouco. Estimativas de pessoas da indústria do alumínio apontam pelo menos R$ 1 bilhão, montante que a CBA costuma investir anualmente em suas operações. A antiga Alcan Brasil, hoje Novelis, gastou cerca de US$ 500 milhões em um laminador desse porte em Pindamonhangaba (SP) muitos anos atrás.

Comandada por Antônio Ermírio de Moraes, que hoje também faz aniversário - 80 anos de vida -, a CBA é a empresa que mais investe na produção de alumínio no país. Desde 2003, já duplicou sua capacidade de fabricação do metal, de 240 mil para 475 mil toneladas, com investimentos de R$ 5 bilhões no período, incluindo geração de energia em hidrelétricas próprias para garantir 60% do consumo total. No momento, a empresa aplica mais R$ 2,5 bilhões, até o fim de 2009, para instalar nova linha de 95 mil toneladas, erguer mais duas hidrelétricas e ampliar duas linhas de produtos acabados na fábrica: uma de perfis e outra de folhas.

Todos os investimentos na CBA, novos e de expansão, de mineração a hidrelétricas, passam pelo crivo de Antônio Ermírio, que conhece a empresa como a palma de sua mão. Ele acompanhou a implantação da empresa e seu início de operação, em 1955, e tem orgulho em dizer que desde lá a CBA cresce à média de 10% ao ano. O empresário reinveste todo o lucro, as vezes até mais, na companhia. No ano passado, lucrou R$ 800 milhões, quando investiu R$ 1 bilhão e já orçou R$ 1,5 bilhão para 2008. A meta agora é atingir a marca de 570 mil toneladas de produção em 2010.

O novo laminador, caso os estudos sejam aprovados pela CBA e pelo grupo Votorantim, introduz a CBA em um patamar de fabricação de chapas de última geração e abre caminhos para sua entrada no mercado de latinhas de alumínio, que cresce na média anual de 10%. Hoje, são 12 bilhões de latinhas utilizadas no país por fabricantes de cervejas e refrigerantes, principalmente, com consumo de 180 mil toneladas de chapas do metal ao ano.

A instalação do equipamento levaria cerca de três anos, desde a aprovação e conta com a vantagem de obras prontas de infra-estrutura na fábrica. Outro fator favorável é que a CBA terá a matéria-prima, o alumínio primário, ao lado, saindo "quentinho" de seus fornos. O metal pode ir direto para a linha de laminação..

A Novelis, controlada por um grupo indiano, é até agora a única fornecedora dessas chapas instalada no país. Os usuários têm recorrido a importações e, por isso, vêm pedindo ao governo eliminação das alíquotas de importação.

A CBA enxerga potencial para atuar nesse mercado, oferecendo chapas com especificações (ligas de alta resistência) capazes de competir com o aço, produto que tenta ganhar espaço no setor de embalagens. A CSN é a única fabricante dessas chapas para latas, mas não passa de 5% das vendas totais.

O equipamento vai permitir entrar também em aplicações nobres da indústria automotiva, hoje ainda dominadas pelo aço. Cada vez mais as montadoras buscam materiais mais leves, além de resistentes, para fabricar o capô, portas, assoalhos e tampas de porta-malas de seus veículos. O objetivo é oferecer produtos que consumam menos combustível e que emitam menos poluentes. General Motors, Ford, Audi, Ferrari e outras já têm seus protótipos de automóveis fabricados 100% em alumínio.

"A vantagem do alumínio é que ele é resistente e leve", comenta Luiz Carlos Loureiro, diretor da CBA, lembrando que em algum momento as filiais das montadoras no país trarão para cá a montagem desses veículos, à medida que ganhem competitividade. Um fator já conta a favor: os preços do aço subiram bem mais que os do alumínio nos últimos anos com a corrida das commodities.

Segundo Loureiro, que preside a Abal, entidade do setor, o mercado brasileiro de produtos de alumínio cresce na média de 10% ao ano. A projeção para 2008 é de 1,03 milhão de toneladas. Isso, avalia ele, justifica expansões como a da CBA e investimentos da empresa em produtos transformados, principalmente para os mercados da construção civil, embalagens, automotivo e industrial.

Loureiro informa que a empresa está aportando 70% dos R$ 1,5 bilhão deste ano na expansão da fábrica, incluindo aumento da unidade de perfis e tubos (de 48 mil para 78 mil toneladas) e da laminação de folhas (de 60 mil para 72 mil). Para o primeiro, foram encomendadas no exterior duas novas prensas e equipamentos de pintura com moderna tecnologia. "Vamos poder oferecer produtos multicoloridos. Se o cliente quiser na cor azul ou vermelho, ele terá".

Em mineração de bauxita, começa a operar até julho a primeira fase de Miraí, em Minas, que terá capacidade total de 5 milhões de toneladas. Inicia ainda a construção de duas hidrelétricas: Rio Verdinho, em Goiás, e Salto do Pilão, em Santa Catarina. Para os projetos de energia são R$ 300 milhões.