Título: Techint avalia investir em usina de placas e tubos de aço no Brasil
Autor: Durão, Vera Saavedra; Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 04/06/2008, Empresas, p. B8
O presidente do grupo Techint, Paolo Rocca, admitiu ao Valor que analisa oportunidades de investimento no Brasil. Ele confirmou o interesse em desenvolver projeto siderúrgico no porto Açu, no norte fluminense, que pertence a Eike Batista, da EBX. O interesse da Techint em ocupar um espaço na retroárea do Açu com uma usina siderúrgica para produção de tubos e placas de aço, avaliada em US$ 3 bilhões, foi revelado pelo próprio Batista em março deste ano.
Ontem Rocca afirmou: "Analisamos este e outros projetos, mas ainda não decidimos nada." Ele disse que olha diferentes alternativas de investimento no país, onde controla a TenarisConfab, fabricante de tubos com costura. Admitiu que o grupo chegou a se interessar pelo projeto da usina siderúrgica do Maranhão, que a Vale do Rio Doce tentou tornar realidade naquele Estado, mas o Techint não se convenceu da localização do projeto, disse Rocca.
A família Rocca controla o grupo ítalo-argentino Techint que atua em engenharia e construção, na área de petróleo e gás, em siderurgia de aços planos e longos e na fabricação de tubos para a indústria de petróleo e gás. Em siderurgia, opera duas holdings. A Tenaris é a maior empresa de tubos de aço do mundo, com presença em diversos países como Argentina, Itália, Estados Unidos, Brasil e Japão.
A Ternium era dona de três empresas - a mexicana Hylsamex, a argentina Siderar e venezuelana Sidor, que somavam capacidade anual de 11 milhões de toneladas, além da IMSA, com atuação na área de laminação de aço. Recentemente, a Sidor foi nacionalizada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chavez. No ano fiscal encerrado em julho de 2007, o grupo Techint faturou US$ 19,8 bilhões. Deste total, a Tenaris responde com mais da metade: US$ 10 bilhões.
Sobre a nacionalização da Sidor, Rocca falou que no momento está discutindo os termos da compensação financeira do ativo com o governo venezuelano. " Estamos explicando a eles (governo) o valor que tem a Sidor com distintas metodologias", disse o presidente da Techint. Ele não mencionou o valor da empresa. O mercado estima que uma compensação adequada à Ternium seria de pelo menos US$ 800 milhões.
"Somos muito grandes; creio que a julgar pela evolução do preço da ação (da Ternium) os acionistas não estão planejando vendê-la (após a nacionalização da Sidor). A ação hoje vale mais do que antes do anúncio da nacionalização da Sidor", comparou.
Rocca não vê uma ameaça de "risco político" nos investimentos da Techint na América Latina. "Não tenho indicações que haja ações parecidas na região. Isto que está ocorrendo na Venezuela é uma decisão tomada pelo governo venezuelano. Nâo creio que haja ações parecidas em outras países do continente na nossa indústria", disse. Ele defende a integração vertical na siderurgia como promoção da cadeia de valor, o que não significa aquisições de fornecedores.
Na sua visão estratégica da siderurgia latino-americana, ele defende o trabalho conjunto para que a cadeia de produção dos países da América Latina possam disputar espaço sobre produtos de valor agregado na concorrência com outras regiões, como a Ásia. "Há que trabalhar com clientes e fornecedores para que as condições (de competitividade) sejam melhores".
Rocca reconhece que hoje a demanda de aço é muito forte em todos os segmentos, incluindo produtos planos, revestidos e longos, entre outros. O consumo em alta é resultado de investimentos em infra-estrutura e em função da demanda industrial, que usa o aço como insumo na fabricação de bens.
Na avaliação de Rocca, a situação da economia mundial poderá seguir a tendência de expansão ou gradualmente reduzir a taxa de crescimento. Entretanto, reconhece que os produtos siderúrgicos voltados para o setor de óleo e gás têm mais chance de continuar com dinamismo, principalmente em países como Rússia e também o Brasil. Neste cenário, Rocca diz que a Tenaris está bem posicionada, com destaque para o mercado americano, onde o grupo fez várias aquisições.