Título: Uni passa JBS em capacidade de abate no país
Autor: Balarin, Raquel; Rocha, Alda do Amaral
Fonte: Valor Econômico, 04/06/2008, Agronegócios, p. B12
Mais um passo na consolidação do setor de carne bovina do Brasil foi dado na segunda-feira, com a fusão de dois frigoríficos, o Quatro Marcos, controlado por Douglas Xavier, e o Margen, de Mauro Suaiden e Geraldo Prearo. A Uni Alimentos, empresa que resulta da fusão, nasce com um faturamento anual de R$ 2,5 bilhões (dados de 2007) e capacidade de abate diário de 18,5 mil cabeças de bois, superior à de JBS-Friboi (18,4 mil) e Marfrig (13,3 mil) no Brasil. Em receita líquida, será a quarta maior.
Não houve desembolso na fusão. A capitalização da companhia foi feita com a entrega de ativos dos dois donos. Eles ainda se comprometeram a investir mais capital na companhia no curto prazo, em dinheiro e ativos. Os dois frigoríficos foram assessorados pelo Banco Real e a negociação durou cinco meses. O valor da capitalização não foi revelado.
Entre os motivos que levaram os dois grupos a se unir estão a baixa sobreposição de áreas de atuação, os ganhos de sinergia (em suprimentos, logística, comercial e fiscal) e o potencial de crescimento. Estão no plano de negócios, por exemplo, aquisições de frigoríficos ou de unidades de produção - o que deverá exigir operações de captação de recursos no mercado de capitais ou nova capitalização, já que as duas empresas estavam com margens afetadas por conta da alta do boi gordo e das restrições nas exportações de carne à União Européia, segundo o Valor apurou. O Margen, por exemplo, anunciou a demissão de 1.500 pessoas em abril. Fontes do mercado afirmam ainda que a empresa vinha atrasando pagamentos de boi gordo em 20 a 25 dias.
Um analista do setor diz que, juntos, Quatro Marcos e Margen ganharão escala e enfrentarão melhor a pressão nas margens. Hoje, a Uni Alimentos utiliza apenas entre 40% e 50% de sua capacidade de abate.
Na Uni Alimentos, a Quatro Marcos terá 55% e a Margen, 45%. Em uma primeira etapa, os dois grupos dividirão a gestão da empresa. Mas o contrato da fusão prevê a contratação de uma equipe profissional para administrar a companhia. As famílias controladoras já estão em negociações com potenciais executivos para a presidência da companhia.
Outro compromisso assumido - desta vez por exigência do Banco Real, segundo o Valor apurou - foi a contratação de uma auditoria independente , que apontará as melhores práticas socioambientais. Frigoríficos em geral têm um histórico de práticas ambientais complicadas e o Banco Real, que construiu uma imagem de banco que respeita o meio ambiente, não abriu mão de incluir essa cláusula em um outro contrato, firmado com a Uni Alimentos.
A nova empresa tem presença em nove estados brasileiros e 40 unidades industriais, sendo 26 de abate bovino, uma de desossa, três de abate de suínos (com capacidade diária de abate de 5 mil) e seis produtoras de charque. Há ainda uma unidade de abate de aves e dois curtumes em construção. Em duas unidades de alimentos industrializados, a empresa pode produzir até 112 toneladas de alimentos. Tanto o Margen quanto o Quatro Marcos já exportavam entre 33% e 40% de sua produção, em especial para a Europa.
Em 2004, os sócios do Margen chegaram a ser presos pela Polícia Federal, acusados de sonegar R$ 150 milhões em tributos e contribuições ao INSS. Procurados, Margen e Quatro Marcos não retornaram as ligações. (Colaborou Marli Lima, de Curitiba)