Título: Indústria sustenta ritmo com alta do investimento
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 04/06/2008, Brasil, p. A4
A produção industrial do país cresceu 0,2% em abril na comparação com março, feitos os ajustes sazonais, divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado foi similar ao de março, quando a produção cresceu 0,4% sobre fevereiro. Em relação a abril do ano passado, o crescimento foi de 10,1%. O índice acumulado em 12 meses, de 7% até abril, apresenta avanço em relação ao registrado nos 12 meses encerrados em março, que era de 6,6%.
A produção de bens de capital e de insumos para a construção civil ajudaram a puxar o resultado, indicando manutenção dos investimentos produtivos. A produção de bens de capital foi 30,1% maior que em abril de 2007, enquanto a de insumos para a construção civil aumentou 11% na mesma comparação. Os dois segmentos acumulam, no ano, 20,5%, e 9,9%, respectivamente.
Para economistas, o resultado de abril deve ser considerado como uma compensação ante o crescimento ínfimo de março, e não uma retomada do ciclo de aceleração do crescimento na produção industrial. "Nem abril foi além, nem março foi aquém", afirmou Júlio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Segundo o economista, o resultado de março ficou abaixo do esperado por conta do número de dias úteis menor (dois a menos que em março de 2007), da greve dos fiscais da Receita Federal (que prejudicou setores exportadores) e da paralisação de uma refinaria.
Já em abril, o número de dias úteis foi maior (1 dia ante igual mês de 2007), a greve dos fiscais afetou menos a produção e a refinaria voltou a operar. Além disso, o aumento da produção de etanol com a entrada da safra também ajudou a puxar o ritmo. "A média de crescimento de março e abril é de 6% ao mês sobre 2007, o que deve ser considerado mais como um sinal de acomodação", disse.
Zeina Latif, economista-chefe do ABN Amro Real, faz análise semelhante. Segundo ela, até outubro de 2007, a indústria crescia a uma taxa mensal de 0,8% contra o mês anterior, com ajuste sazonal. "Em novembro começou a haver uma acomodação e hoje a taxa está em torno de 0,1%. O quadro sinaliza desaceleração", afirmou. Zeina cita como fatores a perda de fôlego das exportações industriais e a recuperação de estoques para níveis que permitirão às indústrias reduzirem o ritmo de atividade.
Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, além dos fatores já citados para a expansão em abril, o crescimento de bens de capital (de 1,6% sobre março com ajuste sazonal) foi decisivo para puxar a atividade industrial no período. "O crescimento nesse setor é sinal de que se investe na economia e que a demanda não será um problema tão grande como foi em anos anteriores", afirmou.
Vale observou ainda que o número maior de dias úteis contribuiu para elevar o índice de difusão do crescimento industrial. Em abril, o índice ficou em 64, ante 45 em março, mas abaixo dos 66 apresentados em fevereiro. O consultor de análise econômica do Itaú, Joel Bogdanski, também considerou esse número normal. "Em 2004, 75% dos setores estavam crescendo, esse foi um resultado espetacular. O dado atual é normal", disse. Bogdanski acredita que o aumento de 20,6% na produção de bens de capital em 12 meses sinaliza a confiança dos empresários no crescimento sustentável da indústria, ainda que em ritmo menor nos próximos meses.
"Há muito tempo o país não mantinha um ritmo de crescimento industrial forte por um período tão prolongado", observou Célio Hiratuka, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo ele, a expansão dos setores de bens de capital e de construção civil tendem incentivar a expansão em outros segmentos e geralmente o ciclo de crescimento dura mais tempo. Para ele, a elevação da taxa básica de juros pode reduzir esse ímpeto, mas ainda não afetou as decisões de investimento.
No ano, a produção industrial cresceu 7,3%, o mesmo índice observado no terceiro quadrimestre de 2007. As tendências são diversificadas nos setores. Os segmentos de bens de consumo duráveis e bens de capital seguem com ritmo acelerado. Bens intermediários mantém o mesmo ritmo registrado no terceiro quadrimestre de 2007 e o setor de bens semiduráveis e não duráveis desacelera (veja gráfico).
Hiratuka associa essa redução do ritmo em não duráveis à inflação de alimentos, que reduz a renda disponível das famílias. Ele também observa que, em 2007, a indústria eletrônica registrou forte crescimento e, portanto, a base de comparação é alta. Para Almeida, do Iedi, essa desaceleração é ruim, porque envolve setores que são fortes empregadores. Ele também considerou "excessiva" a aceleração em bens duráveis, puxada pelo setor automotivo, que é fomentado por crédito. "Se a idéia é desacelerar esse setor, a melhor política seria modular o crédito, e não elevar os juros, o que vai comprometer todos os setores", criticou.