Título: Barack Obama será o candidato democrata à Presidência dos EUA
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 04/06/2008, Internacional, p. A9

O senador Barack Obama venceu a disputa com a ex-primeira-dama Hillary Clinton e será o candidato do Partido Democrata às eleições presidenciais de novembro nos Estados Unidos, um triunfo de dimensões históricas que faz dele o primeiro negro com chances de governar o país mais poderoso do planeta.

Vários deputados, senadores e dirigentes partidários que ainda estavam em cima do muro declararam ontem seu apoio a Obama, assegurando ao senador a maioria necessária para pôr um ponto final na batalha com Hillary e assumir o comando de um partido que ela e o marido, o ex-presidente Bill Clinton, dominaram por mais de quinze anos.

Obama precisava garantir o apoio de pelo menos 2.118 delegados para ter maioria na convenção nacional que indicará o candidato dos democratas em agosto. Projeções da agência de notícias Associated Press e das redes de televisão indicaram que ele alcançou esse número ontem à noite, quando duas dúzias de líderes partidários planejavam anunciar abertamente seu apoio.

A fase preliminar da corrida presidencial americana terminou ontem com a realização das duas últimas prévias estaduais dos democratas, em Montana e Dakota do Sul. A votação se encerrou à noite nos dois Estados, mas a contagem dos votos seria concluída somente hoje de madrugada, pelo horário brasileiro. Pesquisas de boca-de-urna indicavam que Obama venceria em Montana.

O resultado das duas primárias perdeu importância ao longo do dia diante da movimentação das lideranças democratas nos bastidores e da enorme pressão que Obama e seus principais colaboradores exerceram para convencer um número significativo de delegados a fazer sua opção e ajudá-lo a liquidar a disputa partidária ontem mesmo.

Numa teleconferência com um grupo de congressistas de Nova York, Estado que representa no Senado, Hillary indicou à tarde que está "aberta" a discutir a possibilidade de ocupar a vaga de vice da chapa de Obama. Mas a maioria dos observadores acha improvável que essa hipótese se realize, por causa dos problemas que uma composição desse tipo certamente traria para Obama.

Alguns líderes partidários crêem que uma chapa conjunta seria a melhor maneira de unir o partido e curar as feridas abertas nos últimos meses. Mas a maioria dos analistas acha que as dificuldades que Obama teria para conviver na campanha com Hillary e o marido depois de tanto tempo trocando acusações seriam maiores do que as vantagens da associação.

Obama, um político de 46 anos e enorme carisma pessoal que ainda não completou o primeiro mandato no Senado, cativou milhões de eleitores prometendo restaurar a abalada reputação internacional dos EUA e mudar a forma como se faz política em Washington, superando as divisões que há anos paralisam o governo e o Congresso.

Ele enfrentará na eleição de novembro o senador John McCain, do Partido Republicano, que foi prisioneiro de guerra no Vietnã e fará 72 anos de idade em agosto. McCain tem a simpatia de muitos eleitores pela forma como se afastou dos dogmas da direita republicana no passado, mas nos últimos tempos ele se reaproximou das alas mais conservadoras do seu partido.

Ontem à noite, num discurso para simpatizantes no Estado da Louisiana, McCain procurou se distanciar de Bush, criticou as posições defendidas por Obama em várias áreas e sugeriu que os eleitores pensem duas vezes antes de embarcar na campanha do adversário. "O povo americano não me conheceu ontem, mas está apenas começando a conhecer o senador Obama", afirmou.