Título: Obama entra desgastado na reta final
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 04/06/2008, Internacional, p. A10

O fim da desgastante batalha que o senador Barack Obama travou com a ex-primeira-dama Hillary Clinton pelo controle do Partido Democrata abre uma nova etapa na campanha presidencial americana, em que o candidato terá novos obstáculos para enfrentar no caminho acidentado que precisa percorrer para chegar até a Casa Branca.

A rancorosa disputa partidária alimentou profundas divisões entre os democratas e Obama precisará de tempo para unir o partido ao seu redor. Ele também terá de lutar para recuperar a confiança de eleitores que se encantaram com ele no início da maratona eleitoral mas perderam a fé de uns meses para cá.

Obama chegou ao fim da batalha numa posição difícil. Simulações de institutos de pesquisa indicam que ele está praticamente empatado com o candidato que representará o Partido Republicano na eleição presidencial de novembro, o senador John McCain, apesar da enorme impopularidade dos republicanos e do presidente George Bush, que apóia McCain.

Segundo o Instituto Gallup, Obama teria 47% dos votos se a eleição fosse hoje e McCain, 44%. Levantamento feito pelo Centro de Pesquisas Pew mostra que a vantagem de Obama encolheu nas últimas semanas e que muitos eleitores tinham uma imagem mais positiva dele no início do ano, quando seu carisma parecia irresistível.

As pesquisas sugerem que o desencanto observado nos últimos meses foi mais acentuado em estratos do eleitorado cujo apoio será crucial em novembro, como os eleitores sem filiação partidária e as mulheres, que preferiam Hillary como candidata. Apenas 46% dos eleitores da ex-primeira-dama acham que Obama será capaz de unir os democratas, segundo o Pew.

Mas Obama terá tempo para reagir nos próximos meses. Seus defensores acreditam que será possível contrabalançar as resistências que ele tem encontrado com ajuda dos milhões de novos eleitores que nos últimos meses foram atraídos para as fileiras do Partido Democrata pelo discurso conciliador do candidato, o primeiro negro com chances reais de chegar à Casa Branca.

Estima-se que 3,5 milhões de eleitores que nunca tinham participado de uma campanha presidencial votaram nas prévias estaduais dos democratas, que neste ano mobilizaram mais de 25 milhões de eleitores. O aumento da participação de jovens e negros, que favorecem Obama majoritariamente, foi maior que o verificado em outros grupos.

"O entusiasmo que a disputa tem gerado nesses eleitores indica que sua participação será maior em novembro e isso certamente será uma vantagem muito importante para Obama", disse ao Valor Ruy Teixeira, analista ligado ao Partido Democrata que não se envolveu com a campanha de nenhum dos candidatos até agora.

Isso poderá fazer muita diferença em Estados onde a briga com os republicanos tende a ser apertada. Nas últimas eleições presidenciais, em 2004, Bush derrotou o candidato dos democratas, o senador John Kerry, por uma diferença de menos de 120 mil votos em Ohio. Nas primárias democratas deste ano no Estado, 231 mil novos eleitores negros foram às urnas e a grande maioria deles votou em Obama.

Em alguns dos Estados mais conservadores do sul do país, a campanha de Obama espera recrutar centenas de milhares de eleitores jovens e negros que não participaram das partidárias, mas ainda podem se registrar para votar em novembro. Segundo o censo americano, em 2004 havia nos EUA 7 milhões de negros aptos a votar mas sem título de eleitor.

Paul Maslin, um especialista em pesquisas que trabalhou para vários candidatos democratas, calcula que o crescimento do eleitorado negro poderá dar a Obama um ou dois pontos percentuais de vantagem sobre McCain. Mas muitos observadores acham que ainda é muito cedo para saber se o entusiasmo observado nas prévias do partido irá se repetir em cinco meses.

"Em 2004, a oposição a Bush e à guerra do Iraque contribuíram muito para aumentar a participação dos jovens na eleição", disse ao Valor Scott Keeter, diretor do Centro de Pesquisas Pew. "Apesar da empolgação com Obama, a candidatura de McCain não desperta o mesmo tipo de hostilidade que levou os jovens às urnas contra Bush."