Título: Última primária mostra que raça é obstáculo para Obama
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 05/06/2008, Internacional, p. A13

No mesmo dia em que o senador Barack Obama celebrou seu triunfo na batalha pelo comando do Partido Democrata, um número significativo de eleitores voltou a expressar nas urnas seu desconforto com a possibilidade de que um negro seja eleito presidente pela primeira vez na história dos Estados Unidos.

Em Dakota do Sul, um dos Estados onde os democratas encerraram suas prévias na terça-feira, 14% dos eleitores apontaram a raça dos candidatos como um fator importante na definição do seu voto, e 60% desses eleitores votaram na ex-primeira-dama Hillary Clinton, segundo pesquisas de boca-de-urna.

Hillary venceu Obama com uma vantagem expressiva em Dakota do Sul, onde a população é majoritariamente branca. Embora o Estado seja pequeno e o resultado não tenha ajudado em nada a ex-primeira-dama a evitar a derrota na disputa partidária, ele ofereceu novos indícios de que a cor da pele pode virar um obstáculo para as aspirações presidenciais de Obama.

Os especialistas em pesquisas de opinião pública costumam lembrar que é muito difícil medir a influência do fator racial sobre os eleitores, porque as pessoas dificilmente revelam seus preconceitos aos entrevistadores. Mas o desconforto encontrado em Dakota do Sul é semelhante ao que foi observado em outros Estados de população branca nas prévias democratas.

O mais difícil para os analistas é prever o impacto que isso terá na eleição de novembro. Ruy Teixeira, um especialista ligado aos democratas, observa que o candidato do partido na eleição presidencial de 2004, o senador John Kerry, perdeu feio para o presidente George W. Bush entre os eleitores brancos, e isso nada teve a ver com questões raciais. Kerry é branco.

"Obama não precisa necessariamente ter a maioria dos eleitores brancos e tem condições de vencer com o apoio de outros segmentos do eleitorado", disse ele ao Valor. Milhões de eleitores jovens e negros que nunca haviam participado de uma campanha presidencial tiraram o título de eleitor para votar nas prévias democratas neste ano, atraídos pelo fascínio exercido por Obama.

David Bositis, pesquisador do Centro Conjunto para Estudos Políticos e Econômicos, uma instituição especializada em pesquisas sobre questões raciais na política americana, lembra que, apesar das resistências encontradas em muitos lugares durante as primárias, Obama venceu Hillary em vários Estados onde a população branca é dominante.

"É claro que existe racismo na sociedade americana, mas eu não acredito que ele seja tão significativo", disse Bositis ao Valor. "Em alguns Estados, Obama teve problemas não porque as pessoas sejam preconceituosas e não gostem da cor da sua pele, mas porque ele estava fora de sintonia com os valores culturais e religiosos de muitos eleitores."

Ohio, um Estado de população majoritariamente branca em que Hillary venceu Obama e onde a disputa tende a ser apertada em novembro, elegeu candidatos negros para vários cargos administrativos locais nos últimos anos. O líder da ala mais conservadora do Partido Republicano no Estado é negro. "Nada indica que o racismo tenha sido um fator importante na derrota de Obama ali", diz Bositis.

As questões raciais provocam divisões profundas nos EUA, um país que demorou um século para abolir a escravidão e outro para acabar com a segregação racial nos Estados do Sul. Obama tem se apresentado ao eleitorado como um conciliador que ajudará os americanos a superar as divisões do passado. Ele raramente discute em público o que a cor da sua pele representa.

Mas ele não teve como fugir do assunto no mês passado, quando precisou romper publicamente com o pastor negro radical que oficiou seu casamento e batizou suas filhas, depois que essa ligação começou a criar problemas políticos para ele. Em Montana, onde Obama venceu as prévias de terça-feira, 27% dos eleitores disseram achar importante o rompimento de Obama com sua antiga igreja, e 59% dessas pessoas votaram em Hillary.