Título: Ministros marcam nova reunião decisiva para a Rodada
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2008, Brasil, p. A5

Reuniões de mais de 30 ministros, ontem em Paris, resultaram no único acordo que eles parecem capazes de fazer atualmente na Rodada Doha: enviarão seus principais negociadores a Genebra na semana que vem para o que é apresentado como o encontro crucial para tentar um acordo agrícola e industrial proximamente. "A próxima semana vai definir o sucesso ou fiasco de Doha", advertiu o comissário europeu de Comércio, Peter Mandelson. "Doha vive seus momentos mais críticos desde que foi lançada (há sete anos)", completou a representante comercial dos EUA, Susan Schwab.

Em Paris houve um diálogo de surdos: países ricos cobrando concessões na área industrial e os emergentes retrucando com pedidos para mais cortes de subsídios agrícolas. A frustração toma conta de todo mundo. Nas entrevistas, há cada vez menos jornalistas e as perguntas quase evitadas para não se ouvir os mesmos argumentos.

Mandelson reclamou que alguns países querem o fiasco da rodada, sem citar nomes. Mais tarde, respondeu ao Valor que queria ouvir do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que o Brasil continua engajado na negociação. Os europeus reclamam informalmente que o país mostra menos pressa por um acordo e que a Índia é ainda pior.

"Ainda queremos a rodada Doha, mas não venham nos vender um carro usado a preço de novo e excessivamente caro", afirmou Amorim, avisando que Doha não vale mais o preço de dois anos atrás, porque subsídios e tarifas agrícolas já estão caindo. "O Mercosul não está à venda", disse, afastando pressões na área industrial.

Em contrapartida, Amorim cobrou o máximo de ambição na liberalização agrícola, para reequilibrar as regras do comércio internacional. Mas se isso não for possível agora, quer que os países assumam o compromisso político de eliminarem os subsídios agrícolas após o período de implementação da Rodada Doha, que normalmente toma cinco a oito anos. Questionada, Susan Schwab não quis comentar a proposta.

A Argentina indagou o que afinal os Estados Unidos estão pagando nessa rodada, já que a Farm Bill, a lei agrícola, é um retrocesso e amplia as subvenções. Já o Japão, na posição oposta na área agrícola, reuniu um grupo de países interessados na liberalização industrial e estimou que o atual texto não serve, alegando que tem exceções demais para os emergentes protegerem setores industriais.

O mediador da negociação industrial, Don Stephenson, quer manter os negociadores em Genebra até que saia algum resultado - avanço ou fiasco. Em caso de progresso, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, poderá então convocar uma reunião ministerial para o fim deste mês ou início de julho em Genebra. Mandelson e Schwab insistiram na importância de fechar o acordo rapidamente, alegando que a opinião pública está insegura sobre a globalização e um entendimento ajudaria a evitar a onda de protecionismo que começa a se propagar no mundo.