Título: Cingapura quer fechar acordo de livre comércio com Mercosul ainda este ano
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2008, Brasil, p. A5

Cingapura é um país pequeno, mas com metas ambiciosas. O governo do país asiático, que ocupa um território de 707 quilômetros quadrados (pouco menor que Campinas, em São Paulo) e tem uma população de 4,59 milhões de habitantes, visita os países do Mercosul para costurar um acordo de livre comércio, que poderá ser selado ainda neste ano. Outro objetivo, mais ousado e difícil, é a assinatura de um acordo de livre comércio entre dez países do Sudeste Asiático e Mercosul, em encontro que será realizado com governantes dos 14 países envolvidos em novembro, em Brasília.

O plano foi divulgado na quinta-feira em encontro entre o governo de Cingapura e empresários brasileiros. O ministro de Indústria e Comércio de Cingapura, Lim Hng Kiang, demonstrou descontentamento com a demora nas decisões da Rodada Doha. "Doha está parada. A alternativa encontrada para avançar nas relações internacionais foi fechar acordos de comércio, fechados com países da Ásia e com Austrália."

Cingapura mantém 13 acordos de comércio com países da Ásia e oferece essa facilidade de transação como atrativo aos países sul-americanos. "Essas são as regras do jogo. Os países se beneficiam dos acordos que Cingapura mantém com os parceiros da Ásia", afirmou o ministro. Da América do Sul, especialmente Brasil, o governo cingapuriano quer facilidades para o comércio de commodities agrícolas, produtos têxteis e energia, sobretudo etanol. O assunto foi discutido nessa semana em reunião com Lim Hng Kiang, o ministro do Desenvolvimento do Brasil, Miguel Jorge, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e representantes da Secretaria Especial de Portos e da Receita Federal. Segundo o embaixador brasileiro em Cingapura, Paulo Alberto Soares, o governo brasileiro concordou em avaliar a adoção de um sistema tributário mais flexível para o país.

Lim Hng Kiang também informou que as empresas do seu país planejam investir no Brasil, sobretudo nas áreas de infra-estrutura, indústria farmacêutica e serviços voltados ao setor de tecnologia da informação. Cingapura tem um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 243 bilhões. Mas os acordos que mantém com países vizinhos (incluindo China e Índia) facilitam a abertura do Mercosul para um mercado potencial com PIB de US$ 8,78 trilhões - isso porque o país é uma das principais portas de entrada e saída de produtos na Ásia.

Em 2007, as importações de Cingapura alcançaram US$ 396 bilhões, mais que seu PIB. Desse total, US$ 110 bilhões foram com a Malásia, US$ 92 bilhões com a China, US$ 66 bilhões com Indonésia e US$ 54 bilhões com Japão. Os negócios com o Brasil foram bem mais modestos. Conforme dados da Secex, o Brasil exportou à Cingapura o equivalente a US$ 1,379 bilhão, 46% mais que em 2006. As importações aumentaram 1,75%, para US$ 1,209 bilhão. Neste ano, até abril, os embarques recuaram 9,7% em comparação com o primeiro quadrimestre do ano passado, para US$ 483,2 milhões. As importações aumentaram 34,5%, para US$ 460,5 milhões.

Entre os principais itens exportados estão petróleo, máquinas, carnes de frango, bovina e suína, café solúvel, barcos e equipamentos navais, catodos de níquel e ferronióbio. Na lista de importados estão circuitos integrados, partes e aparelhos de telefonia, óleos diesel, microprocessadores e outros produtos da área eletroeletrônica.

A balança comercial entre os dois países totalizou US$ 2,59 bilhões em 2007 e a perspectiva para este ano, segundo Lim Hng Kiang, é de que o comércio bilateral atinja US$ 3 bilhões, o que significaria um incremento de 16%. "O Brasil, como um dos Bric, tem um potencial imenso de negócios. Hoje o país é o 28º no ranking da nossa balança comercial, mas caminha rapidamente para se tornar o 25º", afirmou o ministro.