Título: Escolha de vice de Marta abre guerra no PT
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Fonte: Valor Econômico, 06/06/2008, Política, p. A8

Caso o PT não consiga atrair um dos três partidos do bloco de esquerda (PCdoB, PSB e PDT) para compor a chapa da ex-ministra do Turismo Marta Suplicy à Prefeitura de São Paulo, como tudo indica, a candidata terá que arbitrar uma guerra interna pela candidatura a vice. Ainda que aliados de Marta controlem tanto o diretório estadual quanto o municipal de PT, o grupo martista não é unido, e nenhuma facção tem hegemonia em qualquer esfera partidária.

Quem disputa a indicação com vigor é o deputado Jilmar Tatto. Sua corrente, PT Lutas e Massas, teve 25,9% dos votos na eleição para dirigentes municipais, em 2007. O grupo de Tatto ficou com 13 dos 35 diretórios zonais. Unidos na capital, os petistas da corrente "Mensagem" (liderada nacionalmente pelo ministro da Justiça, Tarso Genro) e os do "Construindo o Novo Brasil" (corrente do presidente nacional Ricardo Berzoini) têm possíveis candidatos como os deputados Paulo Teixeira e José Eduardo Martins Cardozo. Este conjunto tem 25,8% dos votos municipais e nove diretórios zonais.

Com 33,8% dos votos municipais e também treze diretórios zonais, o grupo "Novos Rumos" tem como potencial candidato o deputado estadual Rui Falcão, companheiro de chapa de Marta na campanha de 2004. Correndo por fora, está o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, cuja corrente "Movimento" é inexpressiva em São Paulo, mas importante em termos nacionais.

A hipótese menos provável é a da indicação de um petista novato em disputas eleitorais, mas com expressão no meio empresarial, como chegou a sugerir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como forma de ampliar o espectro da candidatura. Há poucos filiados com este perfil dentro da sigla e a eleição de 2010 aumenta a resistência dos petistas a esta possibilidade.

Ainda que Marta tenha garantido a aliados que não só ficará no mandato municipal até o final, caso eleita este ano, como poderá até concorrer à reeleição de 2012, poucos são os que acreditam nisto dentro da sigla. Caso a petista se desimcompatibilize para tentar a presidência ou o governo estadual, seu vice herdaria uma prefeitura em situação análoga a do atual prefeito, Gilberto Kassab (DEM), o que aumenta o apetite partidário para o cargo.

Com tanta divisão, Marta deverá arbitrar a escolha de seu companheiro de chapa, algo que ela publicamente rejeitou na entrevista coletiva de ontem. "Vice quem escolhe é o partido. O máximo que eu posso fazer é vetar", afirmou. Em 2000, quando Marta ganhou a eleição, a divisão interna foi resolvida pela escolha de um nome respeitado fora do PT, mas partidariamente neutro: o do jurista Hélio Bicudo. Na ocasião, contudo, não havia a perspectiva da Marta se desincompatibilizar para disputar as eleições de 2002.

A ex-ministra mostra preocupação em manter o partido unido ao montar o seu estado-maior. Marta pulverizou a coordenação da campanha. Convidou o deputado estadual Simão Pedro, da tendência Mensagem, para coordenar a agenda. O coordenador de comunicação será o ex-secretário municipal de Abastecimento, Valdemir Garreta, do grupo "Novos Rumos".

A mesma corrente ficará ainda com a coordenação central, a ser dividida entre o vereador José Américo e o deputado federal Carlos Zarattini. Jilmar Tatto está influindo na montagem do programa de governo, sobretudo na área de transporte. É provável também que seu grupo fique encarregado da parte financeira da campanha. O marketing eleitoral será feito pelo publicitário João Santana, o mesmo que fez a campanha presidencial de Lula em 2006.

A montagem da equipe ainda não está fechada e Marta continua peregrinando entre as diversas facções petistas. Ontem, por exemplo, estava previsto um encontro com os deputados estaduais ligados a Berzoini e ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.

As conversas não visam apenas à estruturação da campanha, mas também a sinalizar que Marta fará "um governo amplo" caso eleita, ou seja: com espaço suficiente para acomodar os principais grupos e subgrupos petistas, além dos aliados com que conta entre o primeiro e segundo turno.

Na projeção dos estrategistas da candidata, o cenário ideal para a ex-ministra seria ir ao segundo turno com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB). Isto porque Marta imagina relançar as conversas para alianças com o PR e o PMDB, partidos que fecharam com Kassab, na hipótese de um segundo turno entre petistas e tucanos.

Ao comentar ontem sobre possíveis alianças, Marta mostrou poucas esperanças na aproximação com o bloco. "Na política, as cordas são esticadas de diferentes formas. As conversas continuam acontecendo. O PCdoB está com uma determinação maior que o PSB em concorrer com nome próprio, mas o martelo não está batido totalmente. O PDT nunca esteve conosco, sempre foi parceiro do PSDB e do DEM. Temos o maior interesse de governar com qualquer um destes três partidos", afirmou. Antes, a prefeita havia desdenhado o fato de não ter aliados. "Quem está em primeiro nas pesquisas não se sente isolado", disse.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 06/06/2008 12:19