Título: Mesmo com pouca ajuda do PAC, investimento puxa PIB no
Autor: Ribeiro , Bianca
Fonte: Valor Econômico, 09/06/2008, Brasil, p. A2

O aumento do investimento será, mais uma vez, a boa notícia do Produto Interno Bruto (PIB), cujos dados do primeiro trimestre de 2008 serão divulgados amanhã pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2007, o investimento (medido pela Formação Bruta de Capital Fixo - FBCF) cresceu 13,4% e as previsões para os 12 meses encerrados em março indicam que essa taxa chegou perto de 15%. Ajudado por este e outros componentes da demanda, também o PIB vai crescer um pouco mais. Depois da alta de 5,4% em 2007, o produto interno deve apontar alta entre 5,7% e 6% no período de 12 meses até março.

Na divulgação do 4º balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o governo defendeu a idéia de que há uma contribuição relevante do PAC no crescimento da demanda por máquinas e equipamentos e na construção civil. O documento da Casa Civil sustenta que "após o início do PAC os investimentos realizados em construção tiveram novo impulso". Para os analistas, contudo, a demanda interna ainda é o principal motor da expansão.

A MB Associados estima alta de 5,7% para o PIB acumulado em 12 meses até março. Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria, crê que a formação bruta de capital fixo terá aumento de 14,7%, com construção civil crescendo 9,8% e máquinas e equipamentos tendo alta de 18% na mesma base de comparação. Vale afirma, no entanto, que o reflexo das obras do PAC sobre esse componente do PIB é difícil de ser mensurado. "Algum impacto tem, pois o investimento público tem crescido, mas falta muito a ser feito."

Para Luís Fernando Lopes, economista-chefe do Pátria Investimentos, a influência do PAC é muito pequena. "Não consigo ver impacto do PAC. Não vou dizer que não influencia, mas apenas de forma indireta." A previsão de Lopes para o investimento nos 12 meses até março indica aumento de 14,5% em relação a igual período do ano anterior, "basicamente com contribuição do setor privado". Segundo ele, o setor público pode potencializar o investimento privado por meio de melhora da infra-estrutura, atuação ainda pouco relevante. Para o PIB, o economista projeta alta de 5,77% no período analisado.

Embora as obras do PAC tenham ganhado corpo nos últimos trimestres, Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Gradual Corretora, também considera tímida a contribuição do plano para o crescimento. Na sua avaliação, o investimento medido pela FBCF vai avançar 14%, com o PIB crescendo 6% nos 12 meses até março.

Para o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, apesar dos projetos do PAC já exercerem alguma influência, muitos estão em atraso e o investimento nos três primeiros meses de 2008 foi puxado pelo setor privado. Mesmo com a licitação das usinas do rio Madeira e de rodovias estatais, o efeito na economia ainda vai demorar até que as obras sejam de fato iniciadas. "As obras mais pesadas do PAC vão ter maior efeito nos próximos dois anos", afirma Borges, cuja previsão é de alta de 17,3% nos investimentos.

Para o economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles, a expansão do investimento vai ficar em 15%, sustentada pela construção civil habitacional, cuja estimativa de alta é de 9,5%, principalmente devido ao crédito elevado. "Ainda não foi possível sentir o impacto do PAC no PIB trimestral."

Como resultado da aceleração das inversões, a taxa de investimento sobre o PIB prevista pelo Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco deve aumentar de 17,6% no quarto trimestre de 2007 para 18,5% no primeiro trimestre de 2008. "O investimento está sendo fundamental para aumentar a capacidade produtiva. E o atual ciclo é muito difuso entre os diversos setores da indústria", diz o diretor de macroeconomia do Bradesco, Octavio de Barros. Segundo ele, o processo de maturação dos investimentos está mais rápido e ajuda a diminuir problemas de pressão de demanda. Esse quadro positivo deve permanecer ao longo do segundo trimestre, diz. Ele afirma que, somente em maio, 110 investimentos de empresas foram anunciados no país, acima dos 63 relativos a maio de 2007.

O ritmo forte das inversões tem sido estimulado ainda pelo real sobrevalorizado, que favorece a importação de bens de capital, avalia o Bradesco. Borges, da LCA, acrescenta que a manutenção do nível elevado dos investimentos ainda guarda relação com a demanda aquecida do consumo das famílias e com os empreendimentos em infra-estrutura, que demoram mais tempo para maturar. "Os investimentos em infra-estrutura financiados pelo BNDES deram um salto em 2007 e isso continuou a se refletir no primeiro trimestre."

Embora todos concordem que a expansão do PIB e dos investimentos ainda é bastante relevante, os economistas chamam a atenção para a tendência de desaceleração no confronto com o trimestre final de 2007. Descontando os fatores sazonais, eles apontam para taxas de crescimento entre 0,5% e 0,6% de janeiro a março perante outubro e dezembro do ano passado, quando a expansão foi de 1,6% ante o terceiro trimestre. Nas projeções do Bradesco e da Concórdia, o PIB deve crescer 0,6% sobre o quarto trimestre de 2007.

Na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, o Bradesco e a Concórdia projetam 5,7%, o que representa uma desaceleração sobre os 6,7% apurados no quarto trimestre de 2007. A LCA prevê um PIB de 5,6% ante o primeiro trimestre de 2007 e de 0,6% sobre o quarto. (*Do Valor Online)