Título: TIM vai apresentar à matriz plano de reestruturação
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 09/06/2008, Empresas, p. B3

Nos últimos meses, o presidente da TIM Brasil, Mario Cesar Pereira de Araujo, colecionou dores de cabeça: os resultados do primeiro trimestre de 2008 vieram fracos e espantaram os investidores; as ações preferenciais da companhia acumulam queda de 23% neste ano; a demora da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em liberar as licenças atrasou a estréia da operadora nos serviços de terceira geração (3G); e a implantação da nova tecnologia causou problemas na rede.

Sem esconder o incômodo, o executivo quer, agora, deixar para trás a maré ruim. Araujo irá nos próximos dias à Itália, com a missão de apresentar aos acionistas da operadora um plano de reestruturação da subsidiária brasileira, fruto de um trabalho encomendado em dezembro à consultoria Booz Allen Hamilton.

A proposta envolve uma reformulação das áreas de negócios da TIM. Será criada uma estrutura com base em grandes segmentos de mercado atendidos pela empresa. A abordagem regional que a operadora confere às suas vendas sofrerá mudanças. "O objetivo desse plano é ser um facilitador da eficiência. Os resultados não serão imediatos, mas queremos tornar a empresa mais competitiva no médio e longo prazos", disse Araujo ao Valor, no sábado, durante o 52º Painel Telebrasil.

Maior agilidade para atender segmentos de clientes e a criação de uma estrutura em que se tenha um controle mais rígido dos processos internos são os objetivos das mudanças, justificou o executivo. "Queremos ter mais foco e ter mais transparência sobre os custos e os resultados de cada produto."

O presidente da TIM disse que o plano não deve acarretar demissões. Porém, ele admitiu que haverá "realocações" para encaixar os funcionários na nova estrutura, cuja implementação está prevista para a segunda metade deste ano. A empresa tem 9,2 mil empregados diretos. "O objetivo principal não é a redução de funcionários", disse posteriormente Araujo, em conversa com jornalistas.

Na semana passada, a Telecom Italia - controladora da TIM Brasil - anunciou um plano de redução de custos que prevê a demissão de 5 mil funcionários na Itália. Sufocado por dívidas, o grupo pretende reduzir 40% de seus custos operacionais no mercado doméstico até 2015.

O plano de reestruturação da unidade brasileira nada tem a ver com o ajuste na matriz, segundo Araujo. Por aqui, as medidas visam sanar problemas e preparar a TIM para as transformações que deverão marcar, nos próximos anos, o setor de telecomunicações do país, disse ele.

Na segunda metade do ano passado, a TIM Brasil começou a dar sinais de que algo não ia bem. No terceiro trimestre, reconheceu que havia deixado de cobrar R$ 173,3 milhões em mensalidades de aparelhos vendidos desde 2004. No primeiro trimestre de 2008, teve de elevar as provisões para inadimplência, efeito colateral de uma política comercial agressiva por meio de televendas adotada meses antes.

Para segurar as rédeas e evitar uma deterioração maior dos resultados da companhia, a TIM suspendeu as televendas no fim do ano, mas o estrago já estava feito. O canal está sendo reativado aos poucos, com parâmetros de análise de crédito mais rigorosos. "Não é um canal de vendas ruim, mas é preciso ter mais controle", afirmou Araujo.

Outro revés foi a demora da Anatel em liberar as licenças de 3G. A operadora estava com a rede pronta, mas não podia inaugurá-la e abocanhar um pedaço do crescente mercado de banda larga móvel. Enquanto isso, a rival Claro já atuava na terceira geração, usando uma faixa de freqüência que detinha e estava ociosa. Com 33 milhões de assinantes, a TIM é a segunda maior operadora de celulares do país, seguida pela Claro, com 31,6 milhões.

Desde o ano passado, a TIM está se reposicionando. A empresa quer deixar de ser uma operadora de celular para tornar-se uma prestadora de serviços de comunicação móvel. A empresa adquiriu licença para atuar na telefonia fixa e traçou uma estratégia para colocar-se no mercado de internet. A venda de modems para o acesso à web tornou-se um produto importante para a empresa e, nesse ponto, a rede de 3G é fundamental, já que proporciona conexão em velocidade compatível com a oferecida pelas teles fixas.

"Os resultados não vêm no curto prazo. Mas vou deixar a empresa sólida para o futuro", disse Araujo.

A repórter viajou a convite da Telebrasil