Título: Lula quer usar fertilizantes para conter preços
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2008, Brasil, p. A3

AP Photo/Eraldo Peres O presidente Lula preside a reunião no Palácio do Planalto: análise das causas e as medidas necessárias para conter a alta da inflação, principalmente dos alimentos, dominaram o debate entre os ministros O governo quer aumentar a produção de fertilizantes no país como um instrumento para conter a alta no preço dos alimentos. A redução da dependência nessa área foi recomendada ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em reunião ministerial. Feito à base de potássio, fosfato e nitrogenados, os fertilizantes tiveram reajustes de 100% nos últimos meses, tornando-se um dos principais fatores de pressão inflacionária no setor.

Na reunião ficou acertado que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, e outros integrantes do primeiro escalão vão se reunir com diretores da Vale e da Petrobras, empresas que têm jazidas de minerais inexploradas, especialmente de potássio.

A intenção do governo é reverter um quadro de dependência externa, reduzindo de 75% para 25% do consumo a importação desse tipo de produto. Em relação ao potássio, contudo, o próprio governo admite que não há condições de o país tornar-se auto-suficiente. O assunto foi levantado quando o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, enumerou a importância e as dificuldades para que o Brasil aumente sua produção de alimentos, compensando com uma oferta maior a grande demanda atual.

Mesmo assim, Stephanes acha possível aumentar a produção, sem necessariamente criar novas fronteiras agrícolas - uma das preocupações expressadas pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, durante os debates ocorridos na reunião. Para Stephanes, basta um trabalho mais intensivo nas áreas que já produzem.

Lula já havia apontado a alta dos fertilizantes como um dos principais vilões no aumento do preço dos alimentos, durante abertura da 30ª Conferência da FAO para a América Latina e Caribe, realizada em Brasília no dia 16 de abril. Naquele encontro, ao defender a produção de biocombustíveis e reagir à intervenção do ex-relator especial da ONU para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, o presidente apontou a alta no preço dos fertilizantes e a concentração na produção dos mesmos - apenas quatro companhias controlam o mercado mundial - como um obstáculo a ser vencido, juntamente com o aumento no preço dos combustíveis.

Outro foco de atuação destacado na reunião ministerial foi incrementar a produção da agricultura familiar nacional. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, afirmou que, em comparação com outros países, os agricultores familiares brasileiros estão aquém de suas potencialidades. Para suprir esse déficit, Cassel defendeu a abertura de novas linhas de crédito para o setor, sobretudo para a aquisição de máquinas agrícolas e tratores, além do investimentos na pesquisa de novas tecnologias.

Na abertura da reunião, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, apontou as medidas que o governo vem tomando para conter a alta da inflação. Na avaliação da equipe econômica, a pressão inflacionária sobre os alimentos está se acomodando, depois de sucessivos crescimentos que se acumulam desde o início da década de 90. Apesar de ainda causar preocupação a alta nos preços do feijão e da carne bovina, a avaliação é de que a inflação está em seu pico e a tendência é um arrefecimento daqui para a frente, permanecendo no centro da meta planejada pela equipe econômica.

Apesar de não ter sido tema do encontro de ontem, auxiliares do presidente Lula afirmaram que a tendência é o governo aceitar a proposta de reajuste de 6% para os benefícios do Bolsa Família. O presidente acredita que a população mais pobre é a principal afetada com a alta no preço dos alimentos, sofrendo uma perda de renda de aproximadamente 8%. Por isso, na opinião do presidente, tanto Mantega quanto o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, "deveriam analisar com carinho" a reivindicação de aumento solicitada pelo ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias. (colaborou Mauro Zanatta)