Título: Governo espera que desaquecimento segure a inflação
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2008, Brasil, p. A6

O aumento da inflação deverá reduzir o poder de compra de uma parte importante da população de baixa renda e isso vai acabar diminuindo a própria demanda por alimentos, um dos maiores responsáveis pelo aumento da inflação mundial e no Brasil. Os cálculos do governo indicam uma inflação de cerca de 8% para essa faixa da população. Espera-se, também, que a expressiva elevação do juro futuro diminua o ritmo dos investimentos.

Esses cenários de desaquecimento da economia e, conseqüentemente, de menor velocidade da inflação, constam da apresentação que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, levou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na segunda reunião ministerial deste ano, ontem no Palácio do Planalto. Os dados apresentados indicam que entre abril de 2007 e 2008, a inflação total acelerou de 3% para 5,04%. No item alimentos, essa aceleração foi bem mais acentuada, passando de 4,63% para 12,62%. Nos demais itens, elevou-se de 2,56% para 3,03%.

Os números da inflação são preocupantes e sua aceleração deve ir até o terceiro trimestre, impulsionada pela alta das commodities e pelo aquecimento da demanda doméstica, agora reconhecido pelo ministro. Segundo as expectativas de mercado, a inflação atingirá 5,9%, em novembro e encerrará 2008 em 5,5%. Depois disso, as previsões apontam para redução gradual da inflação para 4,6% no fim de 2009, e 4,5% em dezembro de 2010.

Apesar dos números que o mercado espera, Mantega manteve otimismo e confiança na economia brasileira e também garantiu, na reunião ministerial, que, neste ano, o impulso fiscal será contracionista, portanto convergente com o novo ciclo de aperto da política monetária. Isso também ocorreu em 2003 e 2004. No primeiro ano do governo Lula, o impulso fiscal foi negativo em 0,12% do Produto Interno Bruto (PIB). Neste ano, será ainda mais negativo: considerando os últimos 12 meses finalizados em abril, ele foi de 0,57%. Em 2007, o impulso fiscal foi negativo em 0,18%.

Os cálculos do impulso fiscal levados por Mantega à reunião de ontem foram preparados pelo Tesouro a partir do método do economista Sheetal Chand, publicado em 1993 no livro "Como medir o déficit público", produzido em parceria pelo Ministério da Fazenda e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Ele considera as variações de receitas e despesas em relação ao crescimento nominal do PIB para medir o efeito da política fiscal sobre o nível da atividade econômica. Se o cálculo do impulso é negativo, isso significa que a política fiscal está sendo contracionista, contribuindo para a redução da demanda agregada. Se é positivo, está ajudando a aquecer a demanda.

O ministro ressaltou que a inflação no Brasil tem origem internacional e deve-se, principalmente, ao forte choque do petróleo, fenômeno ainda mais agudo que os outros dois choques dos anos 70. Para o ministro, no caso do Brasil, a inflação vem sendo causada, basicamente, pelo aumento dos preço dos alimentos. A alta das commodities metálicas e agrícolas começa a atingir os preços de commodities industriais. E já vêm tendo forte impacto sobre os preços no atacado, como é o caso de derivados de petróleo (inclusive químicos e plásticos) e de commodities metálicas (aço e produtos metalúrgicos), como aponta o ministro.

Mantega afirmou ao presidente e aos seus colegas de governo que os fundamentos da atual expansão da atividade econômica no país reduzem o risco de uma perda de controle sobre a inflação. Ele ressaltou que a forte elevação do investimento garante maior oferta nos próximos anos e insistiu que o atual ritmo de crescimento (entre 4,5% e 5,0%) é compatível com o potencial da economia. Portanto, na sua visão, esse crescimento não é inflacionário.