Título: PT e PCdoB buscam apoio mútuo em Rio e SP
Autor: Grabois , Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2008, Política, p. A6

As direções nacionais do PT e do PCdoB avançam nas negociações para a retirada das candidaturas de Aldo Rebelo à prefeitura de São Paulo (PCdoB) e de Alessandro Molon (PT) à prefeitura do Rio. Hoje, o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, se reúne com o presidente do PT, Ricardo Berzoini, em Brasília, para tratar do assunto.

A idéia é que Aldo abra mão de ser candidato e saia como vice de Marta Suplicy (PT), hoje sem alianças. Em troca, no Rio, Molon, que perdeu o apoio do PMDB na semana passada, sai como vice da candidata do PCdoB, Jandira Feghali. "Quando há alianças, há compromissos programáticos e de resultados. Trabalho com a perspectiva de tentar apoio mútuo entre Rio e São Paulo", afirmou o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini.

Marta divide a liderança de intenção de votos com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, enquanto Aldo não passa de um ponto percentual. No Rio, Jandira está em segundo lugar nas pesquisas, atrás do senador Marcelo Crivella (PRB). O candidato do PT está em sexto lugar na disputa e não chega a deter 3% nas pesquisas.

A hipótese da troca de alianças entre Rio e São Paulo gerou reações exacerbadas dos candidatos e representações locais dos dois partidos. "O PT do Rio não será moeda de troca em uma política que não representa o interesse do Rio de Janeiro. O Molon continua e não vou deixar que o PT do Rio vire moeda de troca nacional en favor da Marta", disse ontem o presidente do diretório municipal do PT, Alberes Lima.

Molon reafirmou sua candidatura, legitimada por uma prévia onde obteve 8,6 mil votos, com cerca de 70% da votação sobre o outro pré-candidato petista, Wladimir Palmeira. "Se houver intervenção, entrego minha carta de demissão", disse o presidente do PT municipal. Berzoini negou qualquer tipo de intervenção nacional e informou que se a proposta for de fato fechada com o PCdoB, terá que passar pelos diretórios regionais das duas legendas "Não vai haver medida de cima para baixo", afirmou.

Aldo Rebelo disse ontem não cogitar a vice-prefeitura do PT e que vai manter a sua candidatura. "Em São Paulo, podemos fazer melhor do que o PT fez", disse Rebelo. O candidato do PCdoB conta com apoio do bloquinho de esquerda (PSB, PRB e PDT), enquanto Marta está isolada em relação a outros partidos.

No Rio, a presidente estadual do PCdoB, Ana Rocha, diz que que é preciso respeitar o PT e a candidatura Molon, mas não escondeu que a aliança com o PT seria bem-vinda. "O importante é a união da esquerda para enfrentar o quadro que está hoje. O Rio de Janeiro tem necessidade de mudança e teria boa alternativa com a união da esquerda, mas as candidaturas que estão hoje são todas legítimas", afirmou.

Jandira, apesar de estar bem nas pesquisas, padece do pouco tempo na TV, de apenas um minuto e meio, e corre atrás de alianças. Com o PT, ganharia cerca de cinco minutos. Como a eleição no Rio hoje conta com sete candidatos, muitos deles da base aliada, existe a avaliação de que o quadro pulverizado favoreceria a candidata do DEM, Solange Amaral, que pode ir ao segundo turno com Crivella, dono da maior taxa de rejeição.

Solange é herdeira política do atual prefeito Cesar Maia, no fim do terceiro mandato. Maia, embora em má fase com a classe média carioca, tem eleitorado grande na zona oeste, área com maior contingente populacional da cidade. Além disso, o DEM tem diversos vereadores que tentarão se reeleger em 2008 e que devem ajudar a candidata. Na avaliação de Cesar Maia, todas as mudanças mais recentes nas candidaturas do Rio, como o rompimento do PMDB com o PT e o relançamento da candidatura de Eduardo Paes, fortalece Solange Amaral. "Ninguém tem mais dúvida que ela estará no segundo turno", disse o prefeito por e-mail. No domingo, o DEM anunciou que terá como candidato a vice-prefeito o deputado estadual Pedro Fernandes, do mesmo partido.

Ontem, o PMDB estadual do Rio anulou acordo fechado em setembro com os democratas paras as eleições municipais, por decisão unânime de 68 representantes. Agora, o partido decide em convenção a ser realizada no fim deste mês se escolhe o ex-secretário de Esporte, Turismo e Lazer, Eduardo Paes; o deputado federal Marcelo Itagiba e Jorge Coutinho, ligado ao movimento negro. Paes havia sido lançado pelo governador do Rio, Sérgio Cabral, mas não conseguiu apoio no PMDB. Depois, Cabral fechou acordo com o PT, mas voltou atrás com a aliança e relançou Paes na semana passada.

"Como as forças majoritárias do partido avaliaram que a candidatura Eduardo Paes tem densidade e capacidade de disputar as eleições, fico feliz. E reitero meu respeito ao deputado Molon", disse Cabral.