Título: Lula considera ministra 'injustiçada'
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2008, Especial, p. A12

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, em reunião ministerial, que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) está sendo vítima de "injustiça" ao ser acusada por Denise Abreu, ex-diretora da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac), de pressionar a agência a tomar decisões favorecendo o fundo de investimento americano Matlin Patterson no processo de compra e venda da Varig pela VarigLog.

"Sobre essa injustiça que estão tentando fazer com a Dilma, o governo está tranqüilo e vai prestar os esclarecimentos", disse Lula, segundo o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). O governo vai municiar sua bancada no Senado com informações e documentos sobre a negociação, para rebater depoimento de Denise Abreu, amanhã, na Comissão de Infra-Estrutura do Senado (CI).

Outras seis pessoas envolvidas no caso foram convidadas a depor na quarta-feira: o ex-presidente da Anac Milton Zuanazzi, o ex-procurador-geral da agência João Ilídio de Lima Filho, o juiz Luiz Roberto Ayoub (1ª Vara Empresarial do Rio), o procurador Manuel Felipe Brandão e os ex-diretores da Anac Leur Lomanto e Jorge Veloso. No dia 18, está prevista audiência para ouvir o advogado Roberto Teixeira, amigo de Lula, e os três sócios brasileiros do fundo Matlin Patterson (Marco Antonio Audi, Luiz Eduardo Gallo e Marcos Haftel).

À imprensa, Denise acusou Dilma e sua assessora Erenice Guerra de pressionarem a Anac para favorecer o fundo Matlin Patterson e seus sócios brasileiros. A ex-diretora da Anac foi convidada a depor, por iniciativa de senadores da oposição e da base governista - o próprio Jucá e a líder do PT, Ideli Salvatti (SC).

"Estamos pedindo à Casa Civil os dados desde o início do processo de falência da Varig", afirmou o líder do governo. Segundo ele, a idéia é esclarecer os interesses por trás da venda da empresa, os procedimentos do governo e as ações da Justiça. Jucá lembra que as decisões do juiz Luiz Roberto Ayoub, que conduziu o processo de falência judicial da Varig, foram mantidas pelos tribunais superiores. "Então, vamos acabar com as meias acusações, meias ilações, e ter o quadro inteiro", afirmou.

A oposição está cautelosa em relação às acusações contra Dilma. PSDB e DEM acham que é cedo falar em Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o assunto. "Não somos a favor de CPI até que fiquem configuradas todas as culpas. Antecipar seria transformar os envolvidos em vítimas", afirmou o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN). Segundo ele, há dois pontos nebulosos: por que os compradores da Varig não assumiram as dívidas da empresa e por que não foi cumprida a lei brasileira que proíbe que estrangeiros tenham mais de 20% do capital das companhias aéreas.

O governo vai tentar mostrar que o processo da Varig teve amparo da Lei de Falências e de decisões judiciais. Por isso, Jucá está se abastecendo de material levantado pela Casa Civil e pela Anac e pelo próprio Senado, referente à tramitação do projeto que resultou na Lei de Falências. "Não quero discutir em cima de mágoas. Temos que discutir o assunto em cima de dados", disse.