Título: Reservas estão perto de US$ 200 bi
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Fonte: Valor Econômico, 10/06/2008, Finanças, p. C1

O Banco Central não vê como teto o volume de reservas de US$ 200 bilhões, que o país deverá atingir nos próximos dias, e pretende continuar a comprar dólares no mercado de câmbio. A avaliação da autoridade monetária é que os benefícios, como a queda do risco-país, ainda superam os custos fiscais dessa política. No médio e no longo prazos, porém, o fundo soberano é tido como uma alternativa para o governo continuar a comprar o excesso de dólares no mercado, evitando uma maior apreciação da moeda nacional. Nesse caso, seriam anunciadas novas diretrizes para as intervenções cambiais.

Dados divulgados ontem pelo BC mostram que, na sexta-feira, as reservas internacionais chegaram a US$ 199,649 milhões. As reservas internacionais têm oscilado muito, em função de flutuações nas cotações de moedas internacionais, de preços de títulos, pagamentos ao exterior e compras de dólares pelo BC. Mas é possível que, hoje ou nos próximos dias, o país alcance a marca histórica de US$ 200 bilhões.

Desde o lançamento do programa de acúmulo de reservas, há quatro anos e meio, o BC vem insistindo que não tem o objetivo de conter a valorização do câmbio, mas apenas aproveitar o momento favorável para reduzir a vulnerabilidade externa da economia. Tanto que, enquanto o BC comprava moeda estrangeira, a taxa de câmbio sofreu forte valorização, saindo do patamar de R$ 3,00 para os atuais R$ 1,63.

Em dezembro de 2003, as reservas somavam US$ 49,296 bilhões, incluindo quase US$ 30 bilhões emprestados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), os quais não podiam ser usados livremente. Naquela época, o indicador que o mercado financeiro acompanhava de perto eram as reservas líquidas ajustadas, então em US$ 20,525 bilhões, que excluem o dinheiro do FMI.

Hoje, quando as reservas se aproximam de US$ 200 bilhões, o país já quitou sua dívida com o FMI, com o Clube de Paris e praticamente resgatou antecipadamente a dívida renegociada em 1994 e alguns bônus da República emitidos desde então.

A avaliação do BC é que o acúmulo de reservas e a redução da dívida externa pública foram fundamentais para que caísse o custo de captação do governo e das empresas privadas e para que o país obtivesse o grau de investimento, concedidos pelas agências Standard & Poor's e Fitch. A autoridade monetária reconhece que essa política tem custos crescentes e benefícios decrescentes. Mas ainda considera que - mesmo atingido o novo patamar - o acúmulo de reservas ainda trás benefícios líquidos importantes.

O custo de carregamento de reservas é a diferença entre o custo de captação do Tesouro, que pode ser representado pela taxa Selic, hoje em 12,25% ao ano, e a remuneração dos ativos aplicados no mercado internacional, cuja referência é a taxa básica americana, em 2% ao ano. Grosso modo, a manutenção das reservas custa R$ 33 bilhões por ano, ou pouco mais do que 1% do Produto Interno Bruto (PIB).

Na visão do BC, o que vale é a percepção de risco. A autoridade monetária irá suspender a compra de dólares quando a piora na percepção de risco fiscal superar os ganhos gerados pela redução da vulnerabilidade externa. A partir de então, a atuação do BC se limitaria aos dias de menor liquidez, para reduzir a volatilidade no mercado de câmbio. Quando esse momento chegar, na visão de economistas do governo, o fundo soberano teria papel mais ativo a ser desempenhado na compra de dólares. Nesse caso, a tendência é que o governo, a exemplo do que faz o BC hoje, comunique claramente seus objetivos, inclusive se a intenção for evitar a maior apreciação da taxa de câmbio.

Hoje, no Ministério da Fazenda, o fundo soberano é visto não como um instrumento de política cambial, mas como um mecanismo para dar consistência à política fiscal no longo prazo. Segundo essa abordagem, o fundo soberano serviria para o governo acumular recursos fiscais quando a arrecadação vai bem, utilizando-os no cumprimento das metas fiscais quando a arrecadação cair. A Fazenda também vê o fundo soberano como uma possível reserva, formada inclusive com arrecadação proveniente das recentes descobertas de petróleo, para lidar com desequilíbrios fiscais de longo prazo, como o déficit da Previdência Social.