Título: Alta do petróleo impacta energia no Brasil
Autor: Capela , Maurício
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2008, Epresas, p. B6

A disparada do preço do barril de petróleo no mercado internacional poderá atingir em cheio o setor de energia no país. Além de pressionar a cotação do gás natural, que hoje tem um novo formato de contratos entre a Petrobras e as distribuidoras do insumo, a valorização da commodity poderá mexer com o preço do megawatt/hora (MWh) no mercado livre.

Com a chegada do período seco é natural que os reservatórios das grandes hidrelétricas sofram um esvaziamento no Brasil. E se houver uma redução drástica nos níveis, como ocorreu no início deste ano, o governo federal precisará colocar em funcionamento as termelétricas que são movidas à gás natural e óleo combustível, cujos preços estão atrelados à cotação do petróleo.

"Um regime de chuvas menor resultará em um repeteco dos preços vistos no ano passado", afirma Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE). No fim do ano passado, o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), indicador que norteia os contratos de energia no mercado livre, alcançou os R$ 130 por MWh e depois pulou para seu patamar máximo, de R$ 569 por MWh, em janeiro de 2008. Só voltou a ficar abaixo dos R$ 100 em março.

Para essa semana, o PLD está cotado em R$ 77,02 para o patamar de carga pesada, que é o usado pela indústria. Esse valor é 6% maior nos mercados do Norte e Nordeste em relação à semana passada. Já na região Sudeste/Centro-Oeste e Sul o valor é estável.

A julgar pela expectativa da indústria nacional quanto ao preço do milhão de BTU do gás natural, é só uma questão de tempo para que esse insumo exerça pressão sobre os preços de energia. Vários setores da economia no país acreditam que o insumo pulará dos atuais US$ 7,3 para cerca de US$ 12 no fim de 2009. E esse valor inclui só a negociação entre o produtor e a distribuidora do insumo. Não contempla, portanto, o acréscimo para levar o gás até a indústria, comércio e outros.

"Mas há também a chance desse aumento do petróleo não virar realidade na cadeia, caso a oferta de outras fontes de energia venham a se confirmar", pontua Lucas Brendler, analista da Geração Futuro Corretora. Brendler lembra da possibilidade de a indústria de açúcar e álcool vender seu potencial energético nos leilões organizados pelo governo federal.

Outro cenário seria a desvalorização do petróleo. Ontem, na Bolsa Mercantil de Nova York, a commodity para julho foi vendida a US$ 134,35, queda de US$ 4,19. Já na Bolsa Internacional do Petróleo de Londres o produto para julho foi negociado a US$ 133,91, redução de US$ 3,78. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) reitera que o nível de produção atual é suficiente. A Opep responde por 40% da oferta do insumo.