Título: Rentabilidade no Mercosul permite à Ford elevar investimento na região
Autor: Olmos , Marli
Fonte: Valor Econômico, 11/06/2008, Empresas, p. B1

Pouco a pouco, a direção da Ford na América do Sul consegue engordar o volume de investimentos na região, a despeito da crise financeira que a matriz enfrenta nos Estados Unidos. Os projetos destinados às fábricas da região anunciados em menos de um ano já envolvem R$ 3,8 bilhões. Em entrevista ao Valor , Marcos de Oliveira, presidente das operações no Mercosul, diz que isso só é possível porque a região dá lucros atualmente.

"Com a América do Norte em dificuldades, seria difícil discutir novos produtos e projetos de ampliações com a matriz se a América do Sul não tivesse resultados positivos", afirma o brasileiro, no comando na região há um ano e meio e funcionário da montadora há 24.

Mais um passo nesse sentido foi dado ontem. Para conseguir fazer a fábrica de caminhões no ABC operar em dois turnos, mais R$ 36 milhões foram adicionados ao programa de R$ 300 milhões definido recentemente para a mesma unidade. À produção de motores, em Taubaté (SP), já foram destinados R$ 600 milhões e à fábrica de veículos na Argentina outros R$ 330 milhões. O projeto do novo Ka absorveu mais R$ 350 milhões. Esses valores se juntam ao programa de R$ 2,2 bilhões para desenvolvimento de novos produtos e processos até 2011.

"A direção mundial da Ford sabe que as operações que apresentam resultados positivos não podem parar", afirma Oliveira. "É preciso reestruturar os negócios nos Estados Unidos, mas a companhia não pode descuidar dos mercados que crescem", completa.

Em 2007, a Ford obteve lucro de US$ 1,2 bilhão na América do Sul , região em que o peso do Brasil passa de 60%. No mesmo ano, o resultado financeiro global da montadora acusou prejuízo de US$ 2,7 bilhões. A um cenário já difícil na América do Norte somou-se o efeito da crise no mercado imobiliário americano e o impacto da alta do petróleo, que leva o consumidor dos EUA a rejeitar os veículos grandes que sempre dominaram na oferta dos fabricantes locais.

Em parte, nesse ponto a posição sul-americana é bem mais confortável que a da matriz. A operação daqui já fez muito da lição de casa que a Ford começa agora a fazer nos EUA. "Passamos a oferecer os produtos que o consumidor estava buscando, administramos redução de custos, incluindo acordos sindicais, e fortalecemos a imagem da marca", resume Oliveira. Dessa forma, a filial no Brasil já dá lições à matriz.

Oliveira diz que há dois anos todos previam que o consumidor americano passaria a se interessar por carros menores. Mas não se esperava uma mudança tão repentina. E também ninguém esperava uma alta nos preços do petróleo tão acelerada. A previsão da direção mundial, de chegar ao equilíbrio financeiro em 2009, foi adiada e a empresa começa a oferecer aos consumidores americanos carros menores, como o Fusion e o Fiesta, fabricado no México. Para Oliveira, há ainda tempo de mudar os rumos da oferta de modelos no mercado americano.

A filial brasileira também foi pega de surpresa, mas por um motivo mais agradável: a súbita alta na demanda. "Ninguém esperava uma expansão de mercado de 50% em apenas dois anos", afirma o executivo.

A empresa não tinha volume de veículos suficiente para atender nem à demanda de automóveis nem à de caminhões na virada do ano. É por isso que, explica Oliveira, a participação da marca no segmento de carros de passeio até caiu um pouco, para 10%, mesmo com o lançamento de uma versão do Ka mais adequada ao estilo do brasileiro. A montadora está bem atrás das três primeiras colocadas (Fiat, Volkswagen e General Motors).

Mesmo com a alta dos juros e eventual desaceleração da economia, a direção da Ford continua fazendo projeções otimistas para o mercado de veículos no Brasil nos próximos anos. E, por isso, mantém os programas de investimentos. Para Oliveira, o mercado continuará oportuno e abrirá espaço para um crescimento sustentado. É possível, diz, contar com um aumento anual de 8% a 10% nas vendas de veículos daqui para a frente.

O executivo lembra, ainda, o aumento da população esperado no Brasil - 200 milhões de habitantes em 2010 e 250 milhões, em 2050. Some-se a isso, destaca ele, o aumento da expectativa de vida dessa população, o que leva os fabricantes de veículos a trabalharem voltados a potenciais compradores de automóveis.

Com mais motores - o ritmo da produção em Taubaté vai passsar de 350 para 500 unidades por dia -, as fábricas de São Bernardo, Camaçari (BA) e Pacheco, na Argentina, serão melhor abastecidas e poderão acelerar o ritmo. Com isso, prevê o presidente da Ford, será possível aumentar as vendas nos próximos meses. Mas, lembra o executivo, apesar de natural, uma expansão de participação no mercado não é o objetivo da companhia. Em tempos em que lucrar é para a Ford muito mais importante do que ganhar espaço no mercado, Oliveira reitera: "queremos crescer, mas de uma forma sustentada e contínua".

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