Título: Cteep fecha parceria com espanholas
Autor: Capela , Maurício
Fonte: Valor Econômico, 11/06/2008, Empresas, p. B9

A Cia. de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (Cteep) fechou um acordo com as construtoras espanholas Isolux e Cymi para colocar de pé 720 quilômetros de linhas de transmissão, que vão conectar as cidades brasileiras de Colinas (TO) e São João do Piauí (PI). Controlada pela colombiana ISA, a Cteep ofereceu um deságio de quase 57% para ficar com este lote no leilão realizado pelo governo federal em novembro do ano passado e acomodou o projeto em uma sociedade de propósito específico chamada Interligação Elétrica Norte e Nordeste S.A. (Ienne).

"Depois da nossa vitória no leilão de novembro, a Isolux e a Cymi nos procuraram e as conversas evoluíram", conta Gabriela Las Casas, gerente de Relações com Investidores da Cteep. Prevista para entrar em operação em 21 meses, a contar de março deste ano, os 720 quilômetros de linhas de construção deverão custar R$ 533,6 milhões.

Com o claro objetivo de diluir os riscos da empreitada e de baratear o custo da construção, o grupo colombiano preferiu tê-las como sócias ao invés de contratá-las para erguer as linhas. E o resultado foi uma redução da participação da Cteep no capital social da Ienne. Se antes, a controlada da ISA possuía 99,9%, agora passará a ter 25,01%. Já a Cymi ficará com 24,99% e a Isolux assumirá os 50% restantes.

"Essas proporções valerão tanto para o custo da obra, como para a divisão do faturamento", afirma Gabriela. A Receita Anual Permitida (Rap), que é o faturamento autorizado pelo governo federal para esse empreendimento, é de R$ 28,9 milhões.

Muito embora cada um dos grupos responda por um pedaço dos R$ 533,6 milhões, a executiva da Cteep esclarece que nem todos os recursos sairão do caixa das respectivas companhias. Segundo estimativas da gerente de Relações com Investidores, perto de 60% dos recursos necessários será viabilizado por linhas de financiamento, ao passo que os demais 40% sairão proporcionalmente do caixa dos grupos.

Apesar das linhas gerais do acordo já estarem definidas, falta o crivo da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Isso, porque esse acordo somente será realidade se a agência der o sinal verde. O Valor apurou que, mesmo não existindo prazo para análise do pedido de mudança, o resultado costuma ser conhecido em cerca de 30 dias. E a julgar pelos trâmites do processo, a tarefa não é fácil. Primeiro, porque na documentação para Aneel é necessário constar todas as justificativas que embasaram a entrada dos sócios. E mudanças como a proposta pela Cteep, segundo a agência, não são comuns.

Mas não é só convencer a Aneel que falta ao Ienne, os novos sócios ainda precisarão acertar algumas arestas entre eles. Segundo Gabriela Las Casas, ainda não está acertado, por exemplo, se as construtoras vão definir já um mecanismo de saída futuro do empreendimento. E a razão da dúvida é muito simples. Como construtoras, essas empresas espanholas estão interessadas na obra e não na operação das linhas de transmissão. Posição completamente diferente da Cteep. "Nós somos operadores e transportar energia é o nosso negócio", conta a executiva.

Essa, inclusive, deverá ser a estratégia da Cteep daqui por diante. Segundo a gerente de Relações com Investidores, a idéia do grupo colombiano é formar alianças com construtoras quando perceber que o projeto desejado tem complexidade técnica ou grande extensão. E isso já deverá acontecer no próximo leilão de linhas de transmissão, que o governo federal deverá realizar no fim do mês.

O lote A dessa licitação, que vai ligar os municípios paraenses de Xingu e Jurupari, é um bom exemplo. Além de possuir 527 quilômetros de rede de transmissão, a linha atravessa um pedaço da floresta amazônica, o que aumenta a complexidade técnica do projeto. Sendo assim, a Cteep resolveu disputar a obra em um consórcio, o Trans-Manaus, que conta com as construtoras Alupar, Cymi e Elecnor. "Usamos essa mesma lógica também nos lotes B e C", acrescenta a executiva da transmissora.

No bloco B, que tem 713 quilômetros de extensão, a Cteep se juntou à Alupar, Cobra e Elecnor. Já no C, que possui 586 quilômetros, a companhia uniu-se também à Alupar, Cobra e Elecnor.