Título: Concessionárias privadas investirão R$ 25 bi até 2015
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 11/06/2008, Empresas, p. B9

Ruy Baron/Valor Vilaça, diretor da ANTF: empresas vão comprar cerca de 80 locomotivas e 3 mil vagões por ano durante esse período As ferrovias brasileiras vão receber investimentos de R$ 25 bilhões até 2015, levando em conta apenas os desembolsos feitos pelas concessionárias privadas. Isso deverá garantir o aumento, dos atuais 26% para 32%, da participação do setor ferroviário na matriz de transportes. Além de investimentos em material rodante (locomotivas e vagões) e via permanente (trilhos e acessórios), que elevam a produtividade, a malha brasileira voltará a crescer: passará dos 28.556 quilômetros de hoje para cerca de 36 mil quilômetros no fim de 2015.

Essas projeções foram feitas pelo Centro de Excelência em Logística da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo, que hoje apresentará o estudo no seminário "Brasil nos Trilhos", em Brasília, com a presença de três ministros de Estado. Pelas estimativas da FGV-SP, a produção das ferrovias chegará a 2015 com 472 bilhões de TKUs (toneladas por quilômetro útil), indicador de referência no setor, que multiplica a carga transportada pela distância percorrida. Trata-se de um aumento de 86% sobre o dado do ano passado, que alcançou 253 bilhões de TKUs. "O Brasil é um país com vocação para commodities e temos um déficit enorme de transporte ferroviário", afirma o coordenador do Celog-FGV, Manoel Reis, ao explicar o potencial de crescimento do setor. Segundo ele, as ferrovias são imbatíveis, na comparação com o modal rodoviário, quando a carga é transportada para distâncias superiores a 500 quilômetros. Hoje, a média percorrida de cada carga é de 570 quilômetros, e subirá para 617 quilômetros em 2015.

O diretor-executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), Rodrigo Vilaça, que representa as concessionárias de ferrovias, destaca que as empresas vão continuar investindo em modernização de seus equipamentos, comprando em torno de 80 locomotivas e 3 mil vagões por ano, durante esse período. Após terem resgatado a malha cada vez mais decadente da extinta Rede Ferroviária Federal (RFFSA), as concessionárias vivem uma fase de investimentos também em expansão da rede.

Só as obras incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) vão acrescentar 2.518 quilômetros à malha, com projetos como a Nova Transnordestina, a chegada da Norte-Sul a Uruaçu (Goiás) e o prolongamento da Ferronorte a Rondonópolis (Mato Grosso). Até 2015, serão mais 5 mil quilômetros, com a construção da Ferrovia Bahia Oeste (entre Brumado e Luiz Eduardo Magalhães), a ligação Ponta Grossa-Paranaguá (Paraná) e a duplicação da Estrada de Ferro Carajás (Pará e Maranhão), entre outros empreendimentos.

"Enfim o governo começou a se mexer", observa o professor Manoel Reis, referindo-se à retomada de licitações e à volta do planejamento para o setor, além da reestruturação da estatal Valec. Vilaça reconhece os avanços, mas pondera que eles serão insuficientes se não vierem acompanhados de outras medidas. Mesmo com a expansão prevista até 2015, "ainda teremos uma malha inferior a 1958", quando o setor foi estatizado e criada a RFFSA.

O diretor da ANTF apregoa que as ferrovias brasileiras passaram por uma transformação desde 1996, quando o primeiro trecho da antiga estatal passou às mãos da iniciativa privada. Em pouco mais de uma década, a quantidade de contêineres transportados subiu de 3,4 mil para 220 mil e os tributos arrecadados pelo governo cresceram onze vezes e meia.

Para acompanhar o setor privado na modernização e crescimento das ferrovias, o estudo aponta a necessidade de pelo menos R$ 6,5 bilhões em investimentos públicos. Uma parte disso, segundo a ANTF, é para a eliminação de gargalos na infra-estrutura. O país tem 434 invasões de faixa de domínio, com favelas que se instalam a centímetros das linhas férreas, fazendo os trens diminuírem a velocidade, algumas vezes, a meros 5 quilômetros por hora. Também existem 12 mil passagens de nível, das quais 2.666 "críticas", em que os trilhos e ruas ou estradas para veículos se cruzam, provocando acidentes e atropelamentos.

Para o setor, o que interessa não apenas investimentos, mas medidas institucionais que resolvam problemas como os obstáculos ao surgimento de novos operadores de transporte multimodal (OTMs), que se encarregam de transportar a carga do início ao fim, passando por estradas, ferrovias e portos. Há mais de 300 OTMs registrados pela ANTT, a agência reguladora do setor, mas que não conseguem se viabilizar por causa da burocracia. As concessionárias têm pelo menos outros dois grandes pleitos para o governo. Querem a criação de um Retrem (análogo ao recém-prorrogado Reporto) para obter isenção de impostos como PIS/Cofins e IPI para a compra de máquinas e componentes importados, sem similar nacional. Também pedem a reversão do arrendamento pela malha concedida - cerca de R$ 450 milhões por ano - para investimentos em infra-estrutura do setor.