Título: Preço já afeta exportações de carne bovina, diz Abiec
Autor: Rocha , Alda do Amaral
Fonte: Valor Econômico, 11/06/2008, Agronegócios, p. B13

A alta dos preços da carne bovina no mercado internacional já começa a afetar as exportações brasileiras do setor. À escassez de oferta de matéria-prima e às restrições européias, que vinham derrubando as vendas, soma-se agora uma demanda menor por causa dos preços elevados, segundo Roberto Giannetti da Fonseca, novo presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Bovina (Abiec), que substituiu o ex-ministro Pratini de Moraes.

Entre janeiro e maio deste ano, o preço médio da carne in natura na exportação subiu 44,46% sobre o mesmo período de 2007, para US$ 3.579,23 por tonelada, segundo a Abiec. Só em maio, a alta foi de 49,25% na mesma comparação, conforme dados da Abiec.

Nesse cenário, as vendas totais de carne (in natura, industrializada e miúdos) recuaram 20,27% até maio, para 920,6 mil toneladas (equivalente-carcaça), sobre os cinco primeiros meses de 2007. Na mesma comparação, a receita cresceu 10,4%, alcançando US$ 2,061 bilhão. Entre janeiro e maio de 2007, havia sido de US$ 1,867 bilhão. A expectativa para o ano é de que os embarques recuem para "pouco mais de 2 milhões de toneladas" - foi de 2,5 milhões em 2007. A receita, porém, deve ficar perto de US$ 5 bilhões, ante US$ 4,5 bilhões ano passado.

Giannetti disse, porém, que o Brasil está em vantagem em relação a outros países. "Outros países concorrentes, como os da Europa e os Estados Unidos, enfrentam aumento de custo superior ao que Brasil experimenta porque a alimentação do gado é baseada em grãos", afirmou. Com custo menor, disse, o país tem potencial para ampliar seu market share no mercado internacional, que é de 33%.

Ele reconheceu que o real valorizado reduz a competitividade da carne brasileira, mas disse que a situação do câmbio é conjuntural e defendeu uma modernização das leis que "facilitam a entrada e dificultam a saída" de dólar do país. "Não se pode dizer que o câmbio de R$ 1,60 veio para ficar", afirmou o executivo, que também é diretor de relações internacionais e de comércio exterior da Fiesp. "A médio prazo devemos ter um câmbio mais competitivo na exportação".

Além de Giannetti, o novo nome na Abiec é Luiz Carlos de Oliveira, o ex-secretário de defesa agropecuária do Ministério da Agricultura entre 1999 e 2002. Oliveira assumiu a diretoria executiva da Abiec, no lugar de Antônio Camardelli.

Oliveira foi incumbido de responder a questões sobre as exportações à União Européia e a certificação de fazendas para vender ao bloco, cuja adesão tem sido inexpressiva. Para o diretor, o aquecimento dos preços do boi no mercado interno - ontem boletins falavam na arroba entre R$ 90 e 93 em São Paulo - e a "absorção" da carne brasileira por outros mercados após as restrições da UE explicam a baixa adesão ao sistema. Ele disse que a Abiec trabalhará junto com o Ministério da Agricultura para estimular as adesões e com isso ampliar os volumes de venda para a União Européia.

A nova diretoria da Abiec também quer mais "sintonia" com a CNA - Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil , segundo Giannetti. "Sinto que não tem havido tanto entrosamento com a CNA", afirmou ele, para quem a entidade tem papel importante no convencimento dos pecuaristas sobre a importância de investir na rastreabilidade do gado.

Apesar de elogiar a "estratégia vitoriosa" da antiga direção da Abiec de focar nas vendas para países emergentes, Giannetti disse que sua gestão dará mais ênfase às aberturas dos mercados de EUA e Japão. E pontuou outro diferencial: a atenção maior a questões como certificação da qualidade e sustentabilidade. "Estudamos mecanismos para que os frigoríficos possam garantir ao importador que a [a produção] é sustentável", disse ele, afirmando que "não gostaríamos de ver a Amazônia se transformando em pastagens".