Título: Lula indica que pode conter demanda
Autor: Felício , Cesar , Galvão , Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 11/06/2008, Brasil, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou ontem que o governo irá agir para conter a demanda , de modo a evitar o superaquecimento da economia. Lula demonstrou a preocupação ao comentar, em discurso na abertura de uma feira hospitalar em São Paulo e em entrevista, o crescimento de 5,8% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre deste ano em relação a igual período do ano passado, divulgado ontem pelo IBGE. De acordo com Lula, "O Brasil teve muitos sobressaltos e não podemos achar que está tudo resolvido. Nós temos que manter o equilíbrio entre a oferta e a demanda, este é o desafio que temos agora".

Segundo o presidente, "o país tem que crescer de forma responsável. Não precisa ser 50% ao ano, mas na faixa de 4% a 5% durante os próximos anos. Deste modo no futuro faremos parte definitivamente do G-8", afirmou, referindo-se ao grupo dos países mais industrializados do mundo. "Crescimento sustentável como este é bom para o Brasil. Basta que a gente mantenha o bom senso e não permita que a inflação volte, que a demanda cresça de maneira exagerada", acrescentou.

Ao comentar o resultado PIB, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que a desaceleração que está ocorrendo na economia é "desejável". Segundo o ministro, os dados indicam que a demanda está convergindo para o nível da oferta, o que, na sua opinião, afasta problemas inflacionários. "Não estamos derrubando a demanda. Foi uma pequena desaceleração. É jogar um pouco de água na fervura."

Na avaliação de Mantega, o aumento da demanda está se consolidando entre 6,5% e 7% ao ano, o que mostra estabilidade e é suficiente para manter o estímulo ao investimento. O governo manteve sua previsão de crescimento de 5% para o PIB em 2008, 2009 e 2010. "Isso é perfeitamente factível com a continuidade dos investimentos e da demanda", avaliou o ministro.

O cenário analisado pelo ministro considera inflação média em torno de 5% e ele reconheceu que ela poderá "acelerar um pouquinho mais", e que, pela lata dos alimentos, ela pesa mais para a população de baixa renda.

Mantega disse que o crescimento do gasto do governo medido pelo IBGE inclui uma estimativa de despesas de União, Estados e municípios. Portanto, o instituto não apurou que o superávit do governo central (Tesouro, Previdência e Banco Central), em abril, foi maior que o de Estados e municípios.

Além do maior superávit primário, Mantega citou outras medidas do governo federal que desaceleraram o consumo, como o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre o crédito da pessoa física e a exigência de depósito compulsório das operações de leasing. A intervenção da Fazenda e do Banco Central, na sua interpretação, diminuiu a disponibilidade de recursos financeiros e aumentou um pouco os juros.

Para o ministro, essas medidas conseguiram reduzir a demanda agregada para um patamar compatível com o crescimento de 5% esperado pelo governo para o PIB. A maior novidade divulgada ontem pelo IBGE, na sua visão, é a maior convergência entre a demanda, que é o consumo das famílias e da sociedade, e a oferta, que é o investimento. Ele considerou "pequena" a desaceleração do consumo que saiu de 8,6%, no último trimestre de 2007 para 6,6% no primeiro trimestre, sempre na comparação com igual período do ano anterior.

Mantega também ressaltou que o investimento continuou robusto: mais de 15% do PIB no primeiro trimestre, o que significa, para ele, que os empresários continuam investindo, para elevar a oferta.

O vice-presidente da República, José Alencar, comemorou ontem o resultado da variação do PIB no primeiro trimestre de 2008, mas não deixou de criticar a política de alta de juros. Para Alencar, o resultado de 5,8% de crescimento é uma amostra de que o país não deve restringir o consumo, mas incentivar o aumento da produção. "Não podemos de forma alguma ficar temerosos quando há demanda porque o Brasil é um país de subconsumo", disse. "E é por isso que precisamos estimular o crescimento da produção. Essa é a razão pela qual eu me bato com a política monetária restritiva, que prejudica o crescimento e inibe os investimentos, além de impedir o consumo. Só que você não pode achatar o consumo de quem não consome. Então, esse tipo de medida não é correto para o país no momento", completou o vice-presidente.

Alencar aponta erro na condução da política econômica na medida em que há freio do consumo pela elevação dos juros. Para o vice-presidente, há necessidade de mudar a cultura dentro do governo. "Estamos gastando recursos de forma desnecessária. Se as taxas [de juros] forem mantidas, vamos passar de R$ 1,2 trilhão de pagamento de juros nos oito anos do governo Lula", afirmou ontem, em seminário que debateu os 20 anos da Constituição Federal, na Câmara dos Deputados.