Título: Inflação afeta crescimento do consumo das famílias
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 11/06/2008, Brasil, p. A4

O consumo das famílias cresceu pela 18 vez consecutiva no início deste ano, mas já em ritmo mais lento que em 2007. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os gastos das famílias encerraram o primeiro trimestre com incremento de 6,6% sobre o mesmo intervalo de 2007. No quarto trimestre, o aumento havia sido de 8,6%. Na comparação com os três últimos meses de 2007, o crescimento foi de 0,3%, com ajuste sazonal. No quarto trimestre, a variação também havia sido maior, de 3,4%; e, nos trimestres anteriores, de 1,6%.

"O resultado foi marcante num momento em que a grande preocupação era a demanda aquecida. Mas chama a atenção a desaceleração já no primeiro trimestre", afirmou Rogério Mori, professor da Escola de Economia de São Paulo (EESP-FGV), para quem a elevação na taxa de juros em abril tende a conter ainda mais a expansão do consumo das famílias. Mori cita como um dos fatores para a desaceleração o aumento do endividamento das famílias, fator que deve reduzir nos próximos meses o ritmo de tomada de crédito. Outro fator, diz, é o comprometimento maior da renda com alimentação, sobretudo das famílias de classes mais baixas, devido à inflação.

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, considera a desaceleração positiva, já que reduz a pressão inflacionária. E prevê mais desaceleração com a política monetária adotada. "Os números para o consumo das famílias será cada vez mais fraco", afirma. Ele prevê para o ano expansão de 5,6% nos gastos das famílias, um ponto percentual abaixo do acumulado nos 12 meses encerrados em março.

Para Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, a inflação de alimentos comprometerá ainda mais a renda das famílias, levando os gastos a um crescimento de 5,5% no ano, ante os 6,5% obtidos em 2007. "O consumo das famílias terá um peso menos relevante neste ano, que será contrabalançado pelos gastos públicos, que devem aumentar para 5,2%", calcula. Para ele, o reajuste nos preços de serviços no segundo semestre, feitos com base no Índice Geral de Preços (IGP), tende a ser mais forte que em 2007, o que também contribuirá para corroer a renda disponível.

Silveira, no entanto, considera alta a expansão do consumo das famílias em bases correntes (de 7,1% no trimestre ante 8,5% no quarto trimestre de 2007). Cesar Fukushima, economista-chefe da Gouvêa de Souza & MD, concorda. "O comércio cresceu 7,7% no trimestre, resultado de uma demanda aquecida das famílias", diz. Para ele, o mais provável é que uma desaceleração mais significativa só ocorra no segundo semestre.

Fernando Montero, conomista-chefe da Convenção Corretora, considerou o resultado do primeiro trimestre como um ajuste em relação aos últimos três meses de 2007. "É melhor avaliar a média dos trimestres que se situa na faixa de 6%, como um indicativo do consumo familiar", afirma. "No quarto trimestre, a taxa de crescimento foi muito alta porque foi influenciada pelo crescimento da intermediação financeira por causa da elevada oferta de crédito. Além disso, havia a baixa base de comparação", complementa Rebeca Palis, gerente das Contas Trimestrais do IBGE. Segundo ela, a economia continua com os fatores que fomentam a alta do consumo das famílias: a massa salarial e o crédito em expansão. A massa salarial subiu 6,9% na comparação com o primeiro trimestre de 2007 e o saldo de operações de crédito para pessoas físicas cresceu 33,7% em termos nominais, levando-se em conta a mesma base de comparação.

Vale, da MB, considerou positivo o crescimento dos gastos das famílias em ritmo inferior à expansão da indústria (de 1,6% ante o quarto trimestre). Para ele, a diferença nas taxas pode indicar recuperação de estoques das indústrias. "Algum estoque certamente ocorreu, tanto que o valor dos estoques no primeiro trimestre foi o maior da série histórica", observa. O aumento dos estoques pode trazer um certo alívio ao desempenho do PIB no segundo trimestre. Ele prevê para a indústria um comportamento parecido ao registrado no primeiro trimestre. "Os sinais são saudáveis para a definição dos juros pelo Banco Central."(Colaborou Ana Paula Grabois, do Rio)