Título: Mais protestos e acenos de paz
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 23/02/2011, Mundo, p. 20

O mundo árabe viveu ontem mais um dia de protestos em favor de reformas democráticas. Milhares de pessoas foram às ruas no Iêmen e no Barein para reivindicar mudanças. A revolta popular, que começou em janeiro, contagiou toda a região e continua a ganhar força depois de ter derrubado os presidentes da Tunísia e do Egito. As manifestações também inspiraram medidas preventivas por parte de alguns regimes, que deram início ao diálogo com a oposição. Na Argélia, o gabinete aprovou um plano para suspender o estado de emergência, em vigor há 19 anos.

Em Sanaa, capital do Iêmen, jovens voltaram a exigir a renúncia do presidente Ali Abddulah Saleh, há 32 anos no poder. Cerca de 4 mil manifestantes acamparam em frente à principal universidade do país. Duas pessoas morreram e cinco ficaram feridas depois de um confronto entre estudantes e simpatizantes do governo, armados com pedaços de pau e facas. O presidente Saleh reafirmou que não deixará o governo. Na segunda-feira, ele condenou as manifestações e afirmou que só se afastará se perder as próximas eleições, marcadas para 2013. ¿Se querem o poder, devem alcançá-lo pelas urnas¿, provocou. O chefe de Estado iemenita ofereceu diálogo aos manifestantes, com a promessa de realizar reformas na legislação eleitoral, mas a proposta foi rejeitada.

No Barein, milhares de homens, mulheres e crianças se misturavam na multidão que marchou pela capital, Manama, com bandeiras do país nas mãos. Apesar de helicópteros militares sobrevoarem a área do protesto, as forças de segurança não impediram a manifestação. Em uma tentativa de relaxar a tensão, o governo anunciara na segunda-feira a libertação de prisioneiros políticos, e os primeiros foram soltos ontem.

Depois de semanas de protestos contra a alta do custo de vida e a repressão política, o governo da Argélia decidiu vai suspender o estado de emergência, em vigor desde 1992 ¿ quando os militares deram um golpe para impedir a vitória eleitoral da Frente Islâmica de Salvação. Revoltados com a taxa de desemprego juvenil, de 46%, os manifestantes lutam por reformas democráticas para impulsionar a economia e conter a alta dos preços dos alimentos. O Egito, exemplo para os demais países que pedem mudanças, começa a se reerguer depois da queda do presidente Hosni Mubarak. Novos ministros, incluindo os de Petróleo, Cultura, Saúde e Comércio, foram empossados, na primeira mudança do governo provisório montado pelo conselho militar que tomou as rédeas do país.