Título: Excêntrico e polêmico
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 23/02/2011, Mundo, p. 20

Personagem da notícia Muamar Kadafi, o líder africano há mais tempo no poder, é conhecido pelas excentricidades e pela relação de confronto com o Ocidente. Nascido em Sirte, em 1942 ¿ a data exata é mantida sob sigilo ¿, é filho de beduínos nômades da tribo Gafafa e cresceu em uma família dedicada à criação de camelos. Aluno aplicado da Academia Militar, aproveitou as lições de liderança para derrubar o rei Idris Senussi e chegar ao poder por meio de um golpe sangrento, em 1º de setembro de 1969.

Logo que assumiu o comando do país, o coronel implantou uma ¿revolução cultural¿. Em 1975, publicou o Livro verde ¿ título indisfarçadamente inspirado no célebre Livro vermelho de Mao Tsé-tung, patriarca do comunismo na China. O texto, uma coletânea de pensamentos breves, resume sua ideologia de um ¿socialismo árabe¿, com características islâmicas. Kadafi estabeleceu os alicerces do regime com a formação de ¿comitês populares de base¿, e batizou-o de Jamihiriya, palavra incorporada ao nome oficial de outros Estados árabes com o significado de ¿república¿ que na Líbia foi traduzida como ¿Estado das massas¿.

Durante seu governo, o presidente declarou ilegais as bebidas alcoólicas e os jogos de azar. Também exigiu a retirada das bases militares norte-americanas e inglesas, expulsou as comunidades judaicas e aumentou a participação das mulheres na sociedade.

Nos anos 1980, o país entrou em confronto direto com os Estados Unidos, na época sob o governo do republicano Ronald Reagan, que chegou a apelidar Kadafi de ¿cachorro louco¿. Em 1986, Reagan responsabilizou a Líbia por uma série de atentados e, em represália, ordenou bombardeios aéreos a Trípoli e Benghazi ¿ entre os mortos estava um filho de Kadafi. A partir de 1992, o país sofreu duras sanções das Nações Unidas como punição pelo envolvimento na explosão, em 1988, de um avião da companhia americana PanAm que sobrevoava a cidade escocesa de Lockerbie. O ataque deixou 270 mortos.

O líder líbio cedeu às pressões internacionais a partir de 1999, quando aceitou entregar seus agentes para julgamento por um tribunal internacional. As sanções foram suspensas e as relações diplomáticas com o Ocidente foram reatadas. Antes de colecionar visitas de líderes europeus, como o então premiê britânico, Tony Blair, Kadafi saboreou a aproximação com o Brasil desde o início do governo Lula. O presidente brasileiro visitou a Líbia em 2003 e 2009, e chegou a chamar o ditador de ¿meu amigo, meu irmão e líder¿. O mandatário líbio ficou conhecido pelas excentricidades durante viagens ao exterior. Ele sempre leva na bagagem uma luxuosa tenda e leite de camelo, e não dispensa uma guarda pessoal feminina ¿ além de militares muito bem treinados.