Título: Governo municia aliados para embate com Denise Abreu
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 11/06/2008, Política, p. A6

O Planalto apresentou ontem a líderes e senadores da base aliada documentos que, na avaliação do governo, mostram que todo o processo de compra da Varig pela VarigLog transcorreu dentro dos limites da legalidade. A ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, assegurou aos parlamentares jamais ter se reunido com a ex-diretora da Anac Denise Abreu, para exercer qualquer tipo de pressão para facilitar a compra da Varig pela VarigLog.

Fornecidos pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, para subsidiar os parlamentares no depoimento da ex-diretora da Anac - a partir das 10h de hoje na Comissão de Infra-Estrutura do Senado - os papéis buscam passar a imagem de que o governo não interferiu no processo e que, desde a decretação da falência da Varig, em 2005, tudo passou a ser conduzido pelo juiz da 8ª Vara Empresarial do Rio, Luiz Roberto Ayoub, responsável pelo processo de recuperação judicial da Varig.

"Questionar isso é colocar sob suspeição a Vara Empresarial e todas as instâncias jurídicas que participaram desse debate", afirmou o ministro da coordenação política, José Múcio Monteiro. Dilma fez uma cronologia dos procedimentos desde 2005, quando começou o processo de recuperação judicial da Varig. "Toda a documentação apresentada e a fundamentação técnica e jurídica me pareceram consistentes. Todo processo foi precedido de uma decisão judicial", disse Aloizio Mercadante (PT-SP). Ele é suplente na comissão e será um dos integrantes da base aliada presentes.

Denise chegou ontem a Brasília portando documentos que comprovariam as pressões do governo no processo de compra e venda da Varig. Com receio de extravio, a ex-diretora da Anac solicitou ao presidente da Comissão de Infra-Estrutura do Senado, Marconi Perillo (PSDB-GO), por meio de assessores do senador, proteção para os papéis durante a viagem de São Paulo a Brasília, em vôo da TAM. Pediu ainda segurança para ela e os documentos já na capital.

Perillo telefonou para a direção da empresa aérea, que teria se comprometido a tomar providências para evitar extravio. A segurança para Denise em Brasília ficou a cargo da polícia do Senado. O ex-presidente da Anac, Milton Zuanazzi, outro que irá depor hoje à comissão, também pediu proteção a Perillo - que levou a solicitação à segurança do Senado. Além de Denise e Zuanazzi, confirmaram presença na sessão de hoje o ex-procurador-geral da Anac, João Ilídio de Lima Filho, e o ex-diretor da agência, Leur Lomanto.

Oposição e governo se prepararam para o confronto de hoje. Enquanto Dilma e José Múcio reuniram-se com líderes e senadores governistas integrantes da comissão e forneceram a eles toda a documentação consideradas necessária para rebater as acusações de Denise, a bancada do DEM e do PSDB fizeram reuniões separadas. A oposição decidiu que a prioridade da reunião de hoje será ouvir Denise, pelo tempo que for necessário. Democratas e tucanos decidiram, ainda, que reagirão a qualquer tentativa de desqualificar a ex-diretora da Anac.

Para a oposição, as acusações de Denise sobre pressões que Dilma teria exercido para favorecer os compradores da Varig e a suposta participação do advogado Roberto Teixeira no processo são comprometedores para o Palácio do Planalto. Nas palavras de um senador da oposição, Teixeira representa "o batom na cueca" do interesse do governo no caso, por sua amizade próxima com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mesmo assim, tucanos e democratas estão cautelosos. "Os fatos são comprometedores, mas não vamos montar um teatro sem exame prévio das provas", afirmou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). "Vamos reagir a manobras clássicas do governo, como tentativa de desqualificar o acusador, de responsabilizar um tucano ou de apontar um Zezinho para dizer que foi ele", disse Guerra.

José Múcio, que decidiu adiar sua viagem a Roma, afirmou não entender, até o momento, o que moveria as denúncias de Dilma, além de um profundo ressentimento pessoal. "As coisas nos pareceram tão claras que não entendemos o que estaria por trás das acusações".

Ele declarou também que a Anac é independente e agia livremente desde os tempos em que Denise era diretora. "Independente para dizer sim ou não sobre as políticas do setor aéreo". No governo, a estratégia agora é esperar o que Denise Abreu tem para mostrar. "Vamos ver que surpresas ela vai trazer. Não vamos nos antecipar demais, até porque não é nosso interesse ficar guerreando como meninos", contrapôs o ministro.