Título: Lupi vê sociedade em decadência
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 11/06/2008, Política, p. A8

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, atribuiu ontem a onda de escândalos envolvendo políticos no Brasil ao reflexo de "uma sociedade que está em decadência" e comparou a situação no país ao programa de TV "Topa tudo por dinheiro", que foi transmitido pelo SBT até 2001.

De passagem por Genebra, para uma conferência mundial do trabalho, Lupi foi indagado pelo Valor se sentia-se constrangido com o resultado de investigações da Operação Santa Teresa que desmontou fraudes no BNDES e aponta na direção do PDT e da Força Sindical.

"A mim, não afeta absolutamente nada", respondeu, argumentando que na investigação "não há um só nome do Ministério do Trabalho e também não há nada contra o PDT".

Ele minimizou as denúncias contra o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, e seu papel no PDT, dizendo que "até agora só apareceram configurações, ilações sobre o Paulinho, prova nenhuma ainda", e que o deputado é do partido como são 60 deputados estaduais, 300 prefeitos, dois mil vereadores.

Mas mesmo "se em tese for verdade"', acha que o beneficiado pela fraude teria sido a prefeitura de Praia Grande, que é do PSBD. "Por que só eu tenho que me sentir incomodado, o PSDB não?", perguntou, colocando a palma da mão no peito.

Enquanto falava, o ministro começou a ser puxado pelo ex-presidente da Força Sindical e agora seu assessor, Luiz Antonio Medeiros, mas continuou respondendo as questões.

Depois de indagar ele próprio se os escândalos acontecem "só acontecem na política, não acontece na família?", emendou: "Isso reflete uma sociedade que está em decadência, que está perdendo valores, de solidariedade, amor, família. Então, o que acontece na política é reflexo do que está acontecendo na sociedade".

Ao seu ver, "as pessoas estão muito mercantilizadas, a vida virou esse programa (de TV) 'topa tudo por dinheiro'. A conseqüência é isso. Não é só político". Ele concordou que até as altas taxas de juros no Brasil ajudam para esse clima: "Claro que ajuda, claro que ajuda".

Aparentemente, o ministro acha que a imprensa fala muito de escândalos. "Por que lucros de banco, de empresários, que ganham tanto dinheiro, não dá noticia todo dia? É cultural. O que vende no Brasil é noticia ruim, é calamidade".

Dizendo que prefere ver o meio copo cheio do que meio vazio, para ilustrar que é mais otimista do que pessimista, Carlos Lupi completou com um sorriso: "Meio copo me basta. Tem gente que vai com sede demais no pote e pode até se engasgar. Eu vou devagarinho".

Também presente na Organização Internacional do Trabalho (OIT), o governador da Bahia, Jaques Wagner, preferiu reagir "filosoficamente". "No caso da política, o que envergonha é a impunidade", afirmou. "Ao invés de diminuir esses episódios, é capaz de aumentar. A vergonha é a não fiscalização, não controle social, eventual demora do poder judiciário que acaba patrocinando mesmo sem querer eventual impunidade".

Para o governador, "o crime nunca compensa, mas se há impunidade não desestimula as pessoas a saírem disso. Num mundo onde só vale o patrimônio, acaba havendo um desvio da gente".

Ele próprio se referiu ao caso de supostas irregularidades na venda da Varig, que envolveriam a ministra da Casa Civil: "Não vale se fazer pré-absolvição ou pré-condenação. Eu não vou fazer pré-absolvição ou pré-condenação de ninguém, mas teve denúncia tem que ser investigada".