Título: Caixa contraria o mercado e capta mais em poupança
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Fonte: Valor Econômico, 11/06/2008, Finanças, p. C 8

Ruy Baron / Valor Fabio Lenza: "Estamos nos preparando para um ambiente de maior competição" A Caixa Econômica Federal fez uma captação líquida de R$ 3,842 bilhões em caderneta de poupança neste ano, até o dia 6 de junho, batendo a marca de R$ 80 bilhões em depósitos nessa modalidade. A poupança é vista na Caixa como fonte estratégica de recursos para dar suporte à expansão da carteira de crédito, enquanto bancos privados pagam mais caro para levantar dinheiro por meio de Certificados de Depósitos a Prazo (CDBs).

"A captação líquida em caderneta de poupança alavanca recursos para a expansão do crédito imobiliário e, na faixa livre, para a expansão da carteira de crédito comercial", diz o vice-presidente de pessoas físicas da Caixa, Fábio Lenza.

A Caixa fez captações positivas em todos os cinco primeiros meses do ano, inclusive janeiro, quando o mercado registrou resgates líquidos. O início do ano é o período mais fraco para captações em poupança. Nesta época os clientes costumam sacar recursos para fazer frente a despesas sazonais, como mensalidades escolares e impostos. A caderneta também sofreu a competição dos CDBs no período. Os bancos pagaram juros mais altos nos CDB para levantar recursos dirigidos a operações de crédito.

Com estratégia de captações mais agressiva, a Caixa elevou de 32,02% para 33,06% a sua participação no mercado de poupança, entre dezembro de 2007 e maio de 2008. Em maio, as captações líquidas da Caixa representaram 58% do mercado. O saldo em caderneta na Caixa somava, em 6 de junho, R$ 81,448 bilhões.

Nos últimos anos, com o avanço do crédito imobiliário, a Caixa decidiu priorizar a captação em poupança. Hoje, aplica em habitação mais recursos do que o exigido pela legislação, que determina que 65% dos saldos em caderneta sejam destinados ao crédito imobiliário. Os depósitos compulsórios representam 30% da captação.

Os bancos que aplicam mais do que o exigido podem captar por meio de Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), que pagam juro um pouco mais alto aos investidores. Hoje, a carteira de LCIs da Caixa é de R$ 3,5 bilhões. O crescimento da caderneta permite à Caixa emitir menos LCIs e reduzir o custo médio de captação.

A exemplo da Caixa, outros bancos, sobretudo instituições financeiras com controle estrangeiro, estão chegando perto da exigibilidade de aplicar em habitação 65% dos recursos captados em caderneta. A tendência é que, em breve, esses bancos também passem a disputar com maior agressividade o mercado de captações de caderneta. "Estamos nos preparando para esse ambiente de maior competição", afirma Lenza. "Nos últimos anos, fizemos campanhas que reforçaram ainda mais a identidade entre a Caixa e a caderneta."

Lenza diz que o aumento das captações em caderneta não está sendo feita à custa da contabilização de outros produtos. Segundo ele, o banco captou R$ 2,160 bilhões em CDBs e R$ 2 bilhões em fundos de investimento neste ano .

Outro ganho para a Caixa é a ampliação da base de clientes, explica Lenza. Até maio, foram abertas 1,6 milhão de contas novas, ou 300 mil contas por mês. Pesquisa feita pela Caixa mostra que 80% da novas contas são abertas por clientes que não tinham nenhum relacionamento anterior com o banco. Hoje, existem na Caixa 35,5 milhões de cadernetas de poupança. O banco vê nesse público potencial para ampliar sua base de correntistas, que soma 4,2 milhões.