Título: Fatia da produção destinada ao exterior estagnou
Autor: Landim , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 12/06/2008, Brasil, p. A3

A participação da exportação na produção industrial estagnou nos últimos três anos. Em 2007, as empresas brasileiras enviaram ao exterior 21,5% do que produziram, conforme dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). O percentual é praticamente igual ao registrado em 2006 e 2005.

O resultado interrompeu o processo de aumento da relevância da exportação para as empresas, que começou em 1996, quando as vendas externas representavam 10,6% da produção industrial. Em dez anos, as exportações duplicaram essa fatia.

Para Fernando Ribeiro, economista da Funcex, a tendência é de queda na participação das exportações no total produzido este ano. "Não será nada drástico, mas deve ocorrer uma queda, porque a produção está crescendo mais rápido do que a quantidade exportada", explicou.

A combinação de demanda interna aquecida e câmbio valorizado levou muitos setores a reduzir o percentual da produção destinado às exportações já em 2007. É o caso, por exemplo, de automóveis, material eletrônico e de comunicações (celulares), máquinas e equipamentos, calçados ou metalurgia.

Em 2004, a indústria automotiva instalada no Brasil destinava 21,6% de sua produção ao exterior. Esse percentual subiu para 23,6% em 2006 e caiu para 19,7% no ano passado. Com as vendas internas de automóveis batendo recordes, as montadoras optam por direcionar a produção ao mercado nacional.

O cenário é o mesmo em material eletrônico e de comunicações - setor em que se destacavam as exportações de celulares. A fatia da produção desse setor destinada ao mercado internacional mais do que duplicou, passando de 11,9% em 2004 para 23,8% em 2006, mas recuou para 18,8% no ano passado.

Em compensação, setores que se beneficiaram da alta dos preços das commodities ou que são menos sensíveis ao câmbio valorizado tiveram bom desempenho no mercado externo no ano passado. Dessa maneira, impediram uma queda da participação da exportação total na produção nacional em 2007.

No setor de extração de petróleo, o percentual enviado ao exterior subiu de 34,6% em 2004 para 50,4% em 2007. A produção nacional de petróleo aumentou nos últimos anos, mas não foi acompanhada pela capacidade de refino de óleo pesado, o que contribuiu para elevar o excedente destinado à exportação. Além disso, os preços internacionais explodiram.

Outro destaque é a exportação de aviões, que foi impulsionada pela demanda internacional. Esse produto está incluído na classificação outros equipamentos de transporte. Nesse setor, a fatia destinada ao mercado externo caiu de 58,4% em 2004 para 49,5% em 2006, mas se recuperou e atingiu 63,9% no ano passado.

O cenário para as importações é totalmente diferente. A participação das importações no consumo brasileiro sobe consistentemente nos últimos anos. O percentual, que estava em 15,3% em 2004, atingiu 17,7% em 2006 e 19,8% no ano passado. O avanço dos importados é conseqüência da forte demanda interna e da valorização do real, que barateia os produtos. Praticamente todos os setores da economia registraram crescimento.

Ribeiro, da Funcex, chama a atenção para o fato de que os principais indicadores da importância da exportação e da importação para a economia se aproximaram. Em 2007, a fatia das exportações na produção e da importação no consumo ficaram próximas de 20%. "É um sinal de que o saldo comercial tende a cair", diz. Ele ressalta que os indicadores ainda são baixos e evidenciam o baixo grau de abertura do país.