Título: PCA de maio leva analistas a esperar alta de 6% no ano
Autor: Bouças , Cibelle ; Rosas*, Rafael
Fonte: Valor Econômico, 12/06/2008, Brasil, p. A3

A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) seguiu trajetória de aceleração em maio, surpreendendo analistas ao atingir o maior nível já registrado para o mês desde 1996. O indicador, apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), encerrou maio com alta de 0,79%. Em 12 meses, a taxa acumula variação de 5,58%, a mais alta desde janeiro de 2006. Diante do cenário, economistas revisaram as metas para o IPCA de 2008 e de 2009.

Os alimentos voltaram a subir fortemente, a uma taxa de 1,95%, a maior para um mês de maio desde o início do Plano Real e também a mais alta desde os 2,06% alcançados em dezembro. De janeiro a maio, o grupo teve alta de 6,4%, respondendo por 1,39 ponto percentual dos 2,88% acumulados pelo IPCA no ano. Nos cinco primeiros meses de 2007, a inflação de alimentos foi bem menor, de 2,81%. Os itens que mais subiram no ano estão refeição fora de casa (alta de 6,43%), pão francês (19,38%), arroz (25,75%), tomate (109,36%) e óleo de soja (30,05%).

Para junho, a expectativa é ainda de aceleração, diz Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho, economista-chefe da SLW Asset Management. Ele fez a projeção mais pessimista para o IPCA de maio, de 0,71%. Para este mês, ele projeta alta de 0,5%, com repasse de preços em itens ligados às áreas petroquímica e siderúrgica e alta em alimentos, sobretudo carnes e feijão, que apresentam aceleração no atacado. Para o ano, ele revisou a estimativa do IPCA de 5,5% para 6,4%; para 2009, o índice foi alterado de 4,9% para 5%.

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, já tinha revisado a projeção de IPCA de 5,5% para 6% no início do mês. "Essa projeção significa um IPCA mensal médio de 0,4%, mas começa a parecer difícil que chegaremos lá", afirmou. Ele cita como fatores para a preocupação os problemas climáticos nos Estados Unidos em áreas de lavouras de trigo e milho, que comprometeram parte da safra e fizeram os preços das commodities agrícolas dispararem nos últimos dois dias nas bolsas internacionais, e as altas consecutivas do petróleo. Outro fator é a valorização em produtos da siderurgia e o risco de repasse para a cadeia automotiva nas próximas semanas.

Além da inflação de alimentos, outra oscilação de curto prazo preocupa economistas: a aceleração na inflação de serviços, que sinaliza uma demanda interna ainda bastante aquecida. Luís Fernando Azevedo, economista da Rosenberg & Associados, observou que o grupo serviços acumula alta de 5,5%, ante 5,2% em abril e a expectativa era de que essa aceleração ocorresse só a partir de junho.

No mês, o grupo serviços pessoais subiu 1,9%, ante 0,56% em abril, tendo como principal fonte de pressão a alta em serviços bancários de 8,74%. "Num cenário de demanda aquecida, com nível de emprego alto e aumento de renda, os repasses em serviços tornam-se mais fáceis e o item deixa de ser uma âncora da inflação para ser um fator extra de pressão", diz Azevedo. A Rosenberg revisou a projeção do IPCA de 2008 de 5,5% para 6%, e de 4,7% para 5% em 2009.

Gian Barbosa, da Tendências Consultoria Integrada, destaca a generalização da alta para outros grupos, como habitação (com alta no mês de 0,32%), artigos de residência (0,17%), vestuário (0,98%) e transportes (0,33%). O índice de difusão, que aponta o percentual de itens que subiram de preço, ficou em 71,35%, o maior desde janeiro de 2005. Para o ano, a projeção do IPCA foi elevada de 4,8% para 5,5%.

O ABN Amro Real manteve a projeção de 5% para o ano. O banco prevê um IGP-M mais baixo em junho, de 1,71%. O índice ficou em 1,97% no primeiro decêndio. Segundo Priscila Godoy, do ABN, a variação foi mais forte na prévia porque a base de comparação era baixa. Ela acredita que itens ligados à siderurgia e a combustíveis registrarão variações menores no mês fechado. Salomão Quadros, da FGV, compartilha a opinião e, para junho, prevê altas mais fortes em carnes e soja e repasse das altas do atacado para o varejo.

Na prévia, o IPA subiu 2,35%, com aceleração em agropecuários (1,82%) e produtos industriais (2,55%). A inflação no varejo (IPC) ficou em 0,6% e, na construção civil, 2,72%. (Do Valor Online)