Título: Aumento da oferta favorece o combate contra a inflação
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 12/06/2008, Opinião, p. A14

A velocidade da expansão da oferta de bens industriais superou a do consumo no primeiro trimestre do ano e esta é a melhor notícia que os números do Produto Interno Bruto trouxeram, como mostrou o Valor em sua edição de ontem. Em meio a um ciclo de alta dos juros, iniciado para deter uma inflação crescente, a tendência diminui a necessidade de aumentos muito fortes do custo do dinheiro, ou de um arrocho prolongado da política monetária. E o que parecia que demoraria para acontecer - a maturação tempestiva dos investimentos para acompanhar o aumento da demanda - está acontecendo. Após 17 trimestres consecutivos de elevação dos investimentos, seus resultados começam a aparecer na capacidade produtiva efetiva. A economia cresceu 5,8% no primeiro trimestre, ante 5,4% no último trimestre - na comparação com os quatro trimestres anteriores. Na ponta, os primeiros três meses do ano foram menos intensos para as atividades produtivas que o último do ano passado. O PIB avançou 5,8% agora e 6,2% no trimestre anterior, na relação com o mesmo trimestre do exercício anterior. A relação de trimestre contra trimestre anterior, com ajuste sazonal, mostra o mesmo movimento - 0,7% e 1,6%, respectivamente.

A economia desacelerou modestamente em parte devido à disparada das importações em relação às exportações, que retirou no primeiro trimestre 1,9 ponto percentual do PIB em relação aos 12 meses anteriores, segundo cálculo da consultoria Rosenberg & Associados. A demanda interna, por seu lado, continua forte e avança a uma velocidade de 8,4%, acima dos 7% de 2007. O consumo das famílias, por outro lado, subiu menos: 6,6% agora e 8,6% no último trimestre do ano passado. A grande diferença qualitativa foi a do avanço dos investimentos, que atingiram 18,3% do PIB, o maior percentual dos últimos oito anos. A ampliação da capacidade produtiva da economia como um todo se revela pelos números da Formação Bruta de Capital Fixo, com avanço de 15,2% na comparação trimestre com trimestre do ano anterior, e 14,9% na com os quatro trimestres anteriores. O destaque neste item ficou por conta da construção civil, que cresceu 8,8%.

Os números da produção industrial de janeiro a abril mostram que a tendência de crescimento dos investimentos prossegue - há evolução acima dos 30% na fabricação de bens de capital, item que ocupa posição de destaque também na pauta das importações do quadrimestre. Se em um ciclo ascendente de produção o investimento tende a correr atrás da demanda, em um momento de freagem da economia é bastante provável que ele desacelere depois que a economia diminuiu sua velocidade. Este é um dos pontos positivos para o combate à inflação futura.

Quanto ao passado, o hiato entre demanda e produção estreitou-se bastante, o que também ajuda na calibragem da política monetária. No último trimestre do ano passado, o consumo das famílias apontou aumento de 8,6% e o da indústria de transformação, 4%. Já no primeiro trimestre de 2008, a produção industrial saltou à frente, com 7,6% ante 6,6% do consumo. O dado destoante foi o da significativa aceleração do consumo do governo, que evoluiu 5,8% no primeiro trimestre do ano (4,5% no trimestre anterior).

Com o início da elevação dos juros, a economia vai perder fôlego ao longo do ano, embora não muito, de forma vagarosa. A inflação, especialmente a dos alimentos, que corrói mais os gastos da população de baixa renda, já corre à frente dos salários. O crédito ficou mais caro e tende a amortecer o ímpeto de consumo que, entretanto, só despencará na hora em que o desemprego voltar a subir. A agropecuária crescerá bem mais que os fracos 2,4% do primeiro trimestre. O governo, por seu lado, comprometeu-se a não elevar seus gastos e manter um superávit de 4,3% do PIB.

O IPCA de maio atingiu 0,79% e chegou a 5,58% em doze meses. Uma safra abundante deve refrear a pressão altista dos alimentos, ainda que moderadamente, e a desaceleração da economia com aumento da oferta da indústria retira pressões adicionais de preços que estão agora se manifestando. Uma política cautelosa de elevação de juros e contenção de gastos públicos pode ainda produzir um crescimento na casa dos 5% com uma inflação bem comportada.