Título: Boi puxa movimentação recorde na BM&F no ano
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Fonte: Valor Econômico, 12/06/2008, Agronegócios, p. B16

O volume de contratos futuros e de opções de produtos agrícolas negociados na BM&F superou em maio, pela primeira vez em um único mês, a marca de 300 mil papéis. O misto de maior popularização desse mercado, com a entrada mais forte de pessoas físicas, e de crescente participação de fundos e tesourarias de bancos ajuda a explicar esse movimento.

Apenas em maio, os 335 mil contratos negociados foram equivalentes a metade de tudo o que foi negociado nos cinco primeiros meses de 2007 somados. O volume financeiro, também recorde, de pouco mais de US$ 5 bilhões, cresceu 57,6% se comparado com o mês anterior e 220,1% em comparação com maio de 2007. O recorde anterior havia sido estabelecido em fevereiro, com US$ 3,7 bilhões. Em número de contratos, o recorde era o de agosto de 2007, com 291,8 mil papéis.

O aumento de transações e volume financeiro deveu-se em grande parte à forte demanda pelos contratos de boi gordo. Em maio de 2007, esses papéis representaram cerca de um terço do total de contratos negociados. Superado naquele momento pelo café arábica, o boi gordo sequer era o contrato de maior interesse dos investidores.

Em maio deste ano, com 67% do total de papéis transacionados, o boi gordo liderou os negócios. As quase 190 mil operações representaram um crescimento de 243% em um intervalo de 12 meses. O milho, com 274% de avanço, cresceu mais, mas os negócios totalizaram 56 mil.

"Tem muita pessoa física entrando nesse mercado. A liquidez aumentou muito", diz Raphael Ferreira, operador da Intertrading Agentes Autônomos. "Muitas vezes a pessoa física é o pecuarista atuando em seu próprio nome, em vez de negociar pela sua fazenda".

Poderia ser evidência de que cresceu vertiginosamente o interesse dos pecuaristas pela negociação de boi gordo como instrumento de proteção (hedge) contra a variação de preços. Não é exatamente o caso, avalia Ferreira. "Para travar o preço no futuro, o pecuarista teria que entrar na ponta de venda, mas também os pecuaristas estão na ponta de compra", afirma.

É o sinal evidente de que o mercado que mais contribuiu para o recorde de negociações na BM&F está apostando em novas altas. Na ponta de compra, as pessoas físicas movimentaram 55,2% dos contratos de boi gordo e, na de venda, 9,3%. Em maio de 2007, os percentuais eram de 40,3% e 10,3%, respectivamente.

"A percepção é de alta dos preços e o destaque maior tem sido a entrada das pessoas físicas, mas os fundos de renda variável também têm aumentado sua participação de forma significativa", diz Élio Micheloni Júnior, operador da Terra Futuros.

De maio de 2007 ao mesmo mês deste ano, os investidores institucionais ampliaram de 14,2% para 17,5% sua parcela no total de negócios realizados no mercado de boi gordo, segundo a BM&F. No milho, eles passaram de 0,3% para 9% e, na soja, de 1,1% para 9,1%. Ontem, os contratos de boi gordo para outubro encerraram negociados a R$ 101,80 a arroba, uma alta de 0,19%.

Nas bolsas internacionais, o forte ingresso dos fundos nos mercados de commodities agrícolas tem sido creditado como uma das principais razões das altas recordes das cotações das commodities. No Brasil, afirmam analistas e traders, esse fator ainda não pode ser percebido com tanta veemência.

"Em Chicago, os contratos de soja giram o equivalente a 20 vezes do que existe no mercado físico. Aqui, isso ainda representa 10%", afirma Gustavo Vencato, gerente da mesa de operações da Intertrading. "Esse mercado ainda tem potencial para crescer muito mais. A entrada de tradings e cerealistas tem ajudado a aumentar a liquidez", avalia.