Título: Estratégia do BB estimula avanço do seguro rural
Autor: Zanatta , Mauro
Fonte: Valor Econômico, 12/06/2008, Agronegócios, p. B16

Mesmo combatida pelos produtores rurais, que reclamam de baixa cobertura e do custo das apólices, a estratégia do Banco do Brasil de conceder crédito rural somente em operações de custeio com seguro rural será ampliada no próximo ano-safra, que começa em 1º de julho.

A proteção de renda (hedge) contra problemas climáticos, iniciada como projeto-piloto no ciclo 2006/07, será estendida aos produtores de soja, milho e trigo de todo o país. E também abrangerá produtores de algodão do Centro-Oeste, Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Paraná. A mesma política servirá aos principais Estados produtores de cana e arroz irrigado, ainda fora do alcance do seguro.

A medida, usada pelo BB para reduzir riscos de sua carteira agrícola, busca incentivar a proteção de renda e pode garantir fluidez de crédito aos produtores. "Quanto mais volume tivermos, mais barato ficará o prêmio do seguro aos produtores", diz José Carlos Vaz, diretor de Agronegócios do BB.

Dono da maior fatia das operações de crédito rural no país, o BB estima que a extensão do seguro cobrirá 40% das operações de custeio no ciclo 2008/09. E espera dobrar para R$ 2,8 bilhões a carteira de valor segurado na próxima safra. No atual ciclo (2007/08), a cobertura atingiu 30% dos R$ 11 bilhões emprestados pelo BB. Em 2002/03, apenas 9% dos custeios tinham hedge.

Na próxima safra, o valor máximo segurado passará de R$ 1,2 milhão para R$ 1,5 milhão por propriedade. Os prêmios das apólices, que variam de 1,25% a 3,5% sobre o valor segurado, e a produtividade garantida pelo seguro serão fixados com base em dados históricos municipais coletados pelo IBGE.

Como incentivo para a adesão, o produtor conta com um subsídio do Tesouro Nacional para 40% a 60% do prêmio a ser pago pelo produtor, desde que limitado a R$ 32 mil por beneficiário. Em 2007, o governo gastou R$ 61 milhões do orçamento de R$ 99,5 milhões para o seguro. Para este ano, o Tesouro reservou R$ 160 milhões ao hedge. A outra metade do valor do prêmio pode ser financiada com um adicional de 15% do próprio crédito rural com juros subsidiados. Em São Paulo e Minas, os governos estaduais bancam mais 25% do prêmio.

A ampliação do seguro é uma das diretrizes defendidas no governo pelo vice-presidente de Agronegócios do BB, o ex-ministro Luís Carlos Guedes Pinto. A meta é avançar na assistência técnica e na redução da burocracia exigida para o crédito rural.

Os gastos do Tesouro Nacional com a subvenção ao seguro rural no ano passado levaram o valor da importância segurada a R$ 2,7 bilhões. A cobertura foi ampliada de 16,6 mil, em 2006, para 27,8 mil produtores (+67%) em 2007, segundo dados da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura. A área segurada pelo hedge contra problemas climáticos aumentou de 1,56 milhão para 2,27 milhões de hectares. O prêmio total arrecadado pelas seguradoras cresceu de R$ 71,2 milhões para R$ 127,7 milhões no período. A maior parte da subvenção ajudou aos produtores de soja, milho, maçã e uva de São Paulo e dos três Estados do Sul.

Apenas seis seguradoras entraram no mercado: AGF Brasil, Aliança do Brasil, Mapfre Vera Cruz, Nobre, Porto Seguro e Seguradora Brasileira Rural (SBR).

O governo espera melhorar o desempenho do seguro rural ao atrais novas empresas ao segmento. E aposta na aprovação do projeto de lei que cria o fundo de catástrofe pelo Congresso Nacional. Este novo instrumento, substituto do atual Fundo de Estabilidade do Seguro Rural, servirá como um resseguro às operações das seguradoras. Na prática, preservará as empresas de fortes prejuízos causados por eventuais problemas climáticos de grandes proporções, como a seca ocorrida no Rio Grande do Sul na safra 2004/2005. O projeto foi enviado à Câmara em maio passado.