Título: PSDB e DEM divergem sobre CPI da Varig
Autor: Rittner , Daniel ; Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2008, Política, p. A10

A oposição no Senado ainda não traçou uma estratégia clara para sustentar o escândalo provocado pelas acusações da ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, no caso Varig. O PSDB ainda resiste a apoiar com veemência uma nova CPI, após as tentativas frustradas de agastar o governo com a crise dos cartões corporativos.

Para algumas lideranças tucanas, o depoimento de Denise não teve força suficiente para impulsionar o caso, por falta de respaldo dos outros ex-diretores da agência, Milton Zuanazzi e Leur Lomanto, que falaram na Comissão de Infra-Estrutura, na quarta-feira. Uma parte dos senadores defende uma acareação entre Denise e Zuanazzi, já que é pouca a expectativa de grandes novidades no depoimento do advogado Roberto Teixeira, convidado a ir à comissão na próxima semana.

No DEM, a avaliação é diferente. O senador Demóstenes Torres (GO) acredita que, sem CPI para investigar as acusações de Denise, os depoimentos de pessoas envolvidas à Comissão de Infra-Estrutura não levarão a muita coisa. Para ele, o depoimento de Denise foi forte e "preocupou o governo". Prova disso seria é o fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter reagido duas vezes, com críticas à ex-diretora da Anac. "O problema (para Lula) não é a ministra Dilma Rousseff e sim o Roberto Teixeira", afirmou.

Na opinião de Demóstenes, os limites de uma comissão técnica impedem uma investigação profunda. Diferentemente de uma CPI, não há poder de convocação e os depoentes não são obrigados a comparecer. Além disso, só a CPI pode quebrar sigilos telefônico, bancário e fiscal. "Sem uma CPI, o caso não vai dar em nada. A gente ouve e acabou. A investigação só vai até onde o investigado quiser."

Para Demóstenes, o depoimento de Zuanazzi confirma a versão de Denise. O ex-presidente da Anac teria, segundo o senador, mostrado estar a serviço de Teixeira na negociação, ao relatar ter pedido para Valeska Teixeira desistir do mandado de segurança contra a agência reguladora.

O presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), afirmou que não vê necessidade de uma CPI por enquanto. "Considero a CPI um instrumento a ser utilizado com o máximo de cautela possível. Não sei se é esse o caso", disse Garibaldi. "Não sei se a questão foi encerrada ou não. O que sei é que o depoimento não significa uma CPI de imediato."

Mais do que a negativa de Milton Zuanazzi sobre a interferência da Casa Civil no processo de venda da VarigLog à Volo do Brasil, gerou especulações a resistência de Leur Lomanto em admitir qualquer tipo de pressão.

A postura dos ex-diretores da Anac levou boa parte dos políticos a comentar que o Planalto teria oferecido recompensa em troca do silêncio. Nas especulações, fala-se que o governo teria prometido uma diretoria do BNDES a Josef Barat, uma vaga de conselheiro do Tribunal de Contas da Bahia a Lomanto e um cargo na Organização Internacional do Turismo (OIT) a Zuanazzi.