Título: Air France prevê forte consolidação
Autor: Osse , José Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2008, Empresas, p. B5

O processo de consolidação da indústria aérea internacional continuará forte nos próximos meses. A pressão exercida pelos altos preços do petróleo e a desaceleração da economia mundial serão os motores para novas fusões e aquisições no setor, na opinião de Jean-Cyril Spinetta, executivo-chefe da Air France-KLM, maior companhia aérea da União Européia (UE).

"Acredito que as dificuldades econômicas da indústria devem levar a mais consolidação", disse Spinetta em entrevista ao Valor na sede da Air France, em Paris. "A fusão entre a Delta e a Northwest foi o primeiro passo, mas haverá outros acordos do gênero nos Estados Unidos, certamente também na Europa e inclusive na Ásia, embora lá a situação não seja tão clara como na União Européia e nos EUA".

Spinetta reconhece que grande parte da consolidação será motivada por razões negativas. Muitas empresas terão de buscar parcerias para sobreviver, situação que não será exclusiva dos grandes mercados e, segundo o executivo, pode chegar a afetar mesmo companhias na América Latina.

O papel da Air France no momento não será tão ativo. Após o insucesso na tentativa de comprar a Alitalia, deve adotar postura cautelosa. "Somos um ator nesse processo, tendo sido os primeiros a agir, com a fusão com a KLM", diz Spinetta. "Jogamos nossas cartas e agora temos de esperar, avaliando nos próximos meses se surgem novas e boas oportunidades".

Mas, mesmo com o colapso das negociações com Alitalia a empresa colhe benefícios da consolidação do setor. O acordo entre as norte-americanas Delta e Northwest, por exemplo, será bastante vantajoso para a Air France, explica Spinetta. A companhia francesa tem parceria operacional com a Delta Airlines e, recentemente, recebeu imunidade de ações antitruste do Departamento de Transportes dos EUA (DoT) por seus laços com a empresa norte-americana.

"(A imunidade concedida pelo DoT) terá um grande impacto em toda a indústria. Vamos criar uma joint venture com a Delta com capital de US$ 12 bilhões", diz Spinetta. "Esse acordo será muito eficiente em termos de alinhamento de capacidade e de política de tarifas. Não é exatamente consolidação, mas um tipo de reestruturação entre dois grandes parceiros dos EUA (Delta e Northwest) e duas companhias dominantes na Europa (Air France e KLM)".

A parceria com a Delta-Northwest ganhou dimensão ainda maior com o acordo de Céus Abertos entre os EUA e a UE, em vigor desde março deste ano. A possibilidade de operar vôos diretos entre cidades das duas regiões abre um significativo leque de oportunidades para que elas trabalhem em conjunto para otimizar suas frotas e alavancar seu faturamento.

A postura atual da Air France, de esperar para ver o que acontece no mercado, é a mesma adotada por uma de suas principais concorrentes européias, a alemã Lufthansa. Embora tenha já demonstrado interesse na espanhola Iberia, a companhia da Alemanha afirma que permanece avaliando o mercado. Para Spinetta, mais do que buscar novas empresas para comprar, o importante é que a Air France trabalhe para aprimorar sua estrutura e se prepare para enfrentar os problemas atuais da indústria. "Precisamos criar condições para trabalhar de maneira lucrativa nos próximos meses e anos, mesmo com os altos preços do petróleo".

A estratégia da empresa francesa para criar essas condições engloba desde investimentos em equipamentos até elaborados esquemas de proteção financeira. Desde 1998 e até 2012, pretende gastar ? 14 bilhões na troca de aeronaves antigas por outras mais modernas. Com aviões novos, é possível ser mais eficiente no uso de combustíveis, que equivalem a cerca de 34% do custo. Sobre a política de preços, Spinetta lembra que embora tenha sido obrigado a elevar os preços das passagens nos últimos anos, os reajustes ficaram próximos de entre 2% e 4% ao ano. "Isso está mais ou menos em linha com a inflação e permitiu manter uma oferta bastante competitiva em termos de tarifa". Contra as altas cotações do petróleo, o CEO diz que a Air France está protegida até 2012.