Título: Energias do Brasil paga R$ 51 mi por usina eólica
Autor: Capela , Maurício
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2008, Empresas, p. B12

Há pouco mais de um ano que a Energias do Brasil andava de olho na Central Nacional da Energia Elétrica (Cenaeel). Uma das pioneiras na geração de energia a partir da força dos ventos no país, a Cenaeel virou alvo da controlada do grupo português EDP, depois que a companhia colocou na sua lista global de prioridades a produção de energia a partir das fontes renováveis. E essa aproximação deu negócio. Por R$ 51 milhões, a multinacional arrematou a Cenaeel, herdando dois parques eólicos e uma carteira de 70 megawatts (MW) em projetos desse tipo de energia.

António Pita de Abreu, diretor-presidente da Energias do Brasil, conta que os dois projetos, localizados em Santa Catarina, são capazes de gerar 14 MW. E a energia de um deles foi negociada com o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) e outro tem contrato com a distribuidora do insumo no estado, a Celesc.

Agora, o desafio da companhia é tirar do papel os 70 MW, que também estão localizados em Santa Catarina. E nesse caso não é só manter os estudos. É também preciso fazer contas, já que colocar em funcionamento cada megawatt desse tipo de geração demanda perto de R$ 4 milhões. Ou seja, se o montante total for posto de pé, a companhia deverá desembolsar perto de R$ 280 milhões.

Mas por ora a Energias do Brasil dará seqüência ao planejamento. Manterá a prospecção e as negociações para o arrendamento das terras necessárias à produção do insumo, apesar disso não significar que o potencial vai virar realidade. Segundo o presidente da Energias do Brasil, as usinas somente sairão do papel se um novo Proinfa for colocado em prática ou se o governo federal fizer um leilão específico para energia eólica. "Construir um parque eólico é rápido. Demora um ano. Não é problema", conta.

A julgar pelos números disponíveis no mercado, é certo que a eólica precisa mesmo de um leilão próprio, já que gerar o insumo a partir da força dos ventos é mais caro do que uma usina hídrica ou térmica. "O megawatt/hora (MWh) precisa ser vendido a R$ 200 para remunerar o investimento", afirma Pita de Abreu. No Proinfa, a eólica costumava sair acima desse valor, enquanto que em leilões de hidrelétricas, o preço-teto estabelecido nos leilões não ultrapassa os R$ 126 por MWh.

A entrada da multinacional portuguesa no negócio eólico no Brasil é reflexo de sua postura global. A empresa, que recentemente fez uma oferta pública de ações da sua controlada EDP Renováveis e arrecadou ? 1,8 bilhão por 25% da companhia, resolveu acomodar sua incursão nesse tipo de energia no país na subsidiária EDP Renováveis Brasil.

Hoje, a EDP é a quarta maior geradora de energia eólica do mundo. Tem sob sua responsabilidade 2,9 gigawatts (GW), sendo que a primeira colocada é a espanhola Iberdrola, com 6,9 GW.

Mas o crescimento da fonte eólica no mundo não se dá apenas pelo aumento do preço do petróleo ou pela necessidade em reduzir o aquecimento global. Ela tem ganhado espaço porque sua tecnologia de produção ficou mais barata. Dados da Associação Mundial de Energia Eólica, por exemplo, mostram que a capacidade global instalada desse tipo de insumo cresceu 26,6% no ano passado, fechando em 93,8 GW. E a expectativa é que a geração mundial de energia eólica alcance 170 GW em 2010.

No Brasil, contudo, a geração a partir da força dos ventos ainda é pequena. Hoje, a capacidade instalada é próxima dos 247,1 MW, o que dá ao país o 25º lugar no ranking da associação, cujo levantamento engloba 74 países.

Miguel Setas, vice-presidente de comercialização da Energias do Brasil, acredita que o país deverá acrescentar 149 MW neste ano, o que representaria um crescimento de quase 66%. E poderia ser até maior. O Atlas do Potencial Eólico Brasileiro, elaborado pela consultoria Camargo -Schubert para o Ministério de Minas e Energia em 2001, aponta um potencial de 143,4 GW, distribuídos pelas cinco regiões do Brasil. E isso equivale a cerca de dez usinas hidrelétricas de Itaipu.