Título: BC vai manter alta gradual nos juros
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Fonte: Valor Econômico, 13/06/2008, Finanças, p. C1

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central indicou, em ata divulga ontem, que manterá o ritmo gradualista de aperto monetário, atualmente em 0,5 ponto percentual por reunião, apesar de o mercado financeiro ter aumentado as suas preocupações com a aceleração inflacionária. Mas o BC deixou uma porta aberta para intensificar a alta de juros, caso haja deterioração adicional nas perspectivas para a inflação.

O BC diz que na semana passada, quando subiu os juros básicos de 11,75% para 12,25% ao ano, já contava com piora da inflação corrente. "Dados preliminares para maio apontam para a continuidade do processo de aceleração inflacionária", diz o Copom. Anteontem, o mercado se surpreendeu com a divulgação de um IPCA de 0,79% para maio, e os juros futuros sofreram forte alta, prevendo aperto monetário mais intenso.

A ata do Copom, de certa forma, vai na direção de acalmar os ânimos do mercado financeiro, ao assinalar que, embora leve algum tempo, a política monetária restritiva em curso irá conter a demanda agregada e baixar a inflação. "O Copom reitera que as decisões de política monetária necessariamente levam em conta as defasagens dos mecanismos de transmissão, e são parte de uma estratégia dinâmica, cujos resultados serão evidenciados ao longo do tempo."

Em outras palavras, as altas de juros baixam a inflação de forma indireta, pelos chamados canais de transmissão, como valorização do câmbio, queda da atividade econômica e contenção do crédito. Na ata, o BC lembra que leva algum tempo para o ciclo de transmissão da política monetária se completar. Uma alta de juros, nos cálculos do BC, leva de três a seis meses para esfriar a demanda e de seis a nove meses para conter a inflação.

Em outro trecho da ata, o BC sugere que, no ritmo atual, o aperto monetário é suficiente para domar a inflação. "O comitê acredita que a atual postura de política monetária, a ser mantida enquanto for necessário, irá assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas." Mas avisa que, se necessário, poderá endurecer ainda mais: "Na eventualidade de modificação do cenário para a inflação, a estratégia de política monetária será prontamente adequada às circunstâncias."

O economista Alexandre Maia, da GAP Asset Management, diz que a ata sinaliza que, à luz dos dados econômicos divulgados até agora, será mantido o ritmo de aperto monetário de 0,5 pp. "Daqui até a próxima reunião do Copom será divulgado um conjunto de novas informações e, se forem muito negativas, o BC poderá subir os juros em 0,75 pp.", afirma Maia.

A ata, ao contrário do que fizera em abril, não se compromete com um ciclo curto de aperto monetário. Naquele mês, o BC subiu os juros em 0,5 pp., enquanto parte do mercado esperava 0,25 pp. Foi suprimido trecho da ata anterior que dizia que "o comitê entende que a decisão de realizar, de imediato, parte relevante do movimento de juros irá contribuir para a diminuição tempestiva do risco que se configura para o cenário inflacionário e, como conseqüência, para reduzir a magnitude do ajuste total a ser implementado."

O Copom, que nas atas anteriores vinha dizendo que os impulsos fiscais vinham puxando a demanda, mudou o discurso. Sumiu a referência à política fiscal expansionista. Diz agora apenas que a demanda é puxada pelas transferências governamentais, como pagamento de Bolsa Família e de benefícios previdenciários, "ainda que ocorrendo em intensidade menor". O BC diz esperar que o avanço do crédito deverá sofrer "alguma moderação, possivelmente causada pela elevação dos custos de captação" dos bancos.