Título: Banco Central faz o que tem de ser feito, afirma Arminio Fraga
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2008, Finanças, p. C2

O economista Armínio Fraga disse ontem em seminário sobre política monetária na Câmara dos Deputados que, enquanto a maioria dos bancos centrais de outros países "bobeou" no combate à inflação, a autoridade monetária brasileira foi uma das poucas que acertaram.

"O BC se antecipou", disse Fraga, que, como presidente do BC entre 1999 e 2002, foi introdutor do regime de metas de inflação no Brasil, que hoje completa nove anos no país. "Está fazendo o que tem que ser feito." Em outros países, os BCs erraram, segundo ele, porque calibraram a política monetária apenas com base nos núcleos de inflação, acomodando a alta dos preços de alimentos e de energia como simples choques de oferta.

Os núcleos de inflação são uma medida importante de tendência, mas, argumenta Fraga, o que conta mesmo é a inflação cheia. "Houve um descuido em relação à inflação cheia, como se a inflação fosse apenas do chuchu", disse. Segundo ele, vista da perspectiva de um só país, a alta dos preços dos alimentos é realmente um choque de oferta. Mas, argumentou, em termos globais, os preços sobem devido à forte demanda, merecendo uma resposta conjunta dos BCs.

Fraga observa que, nas últimas duas semanas, começou a se esboçar uma possível reação concertada dos BCs, depois que se reduziram um pouco as preocupações com a recessão nas economias desenvolvidas.

O diretor de Normas do BC, Alexandre Tombini, que também participou do seminário, disse que a política monetária no Brasil está sendo calibrada para assegurar que haja uma mudança ordenada nos preços relativos no país. Ou seja, que subam apenas preços de produtos que estão ficando mais caros devido a choques de oferta, como alimentos e energia, sem que haja repasse para os demais preços. "É importante que a mudança de preços relativos não seja perdida, pois ela é um sinalizador importante para quem consome e para quem investe", disse. Segundo Tombini, a mudança de preços relativos incentiva o aumento da oferta de determinados produtos.

Fraga mostrou-se cético sobre as vantagens da criação de um fundo soberano, como anunciado pelo governo. "Criar um fundo soberano sem lastro real, como receitas extraordinárias de petróleo ou uma poupança fiscal genuína, não faz sentido", afirmou. As recentes descobertas de petróleo, ponderou, poderão criar as bases no futuro para a constituição do fundo.

Ele não considera aconselhável emitir dívida interna para constituir o fundo soberano. Em tese, disse, o governo pode aumentar o superávit primário para comprar dólar e, assim, depreciar a taxa de câmbio. O problema é que, com a queda do risco Brasil, ficou bem menos arriscado para agentes do mercado montarem posições especulativas contra tentativas de depreciar o câmbio artificialmente. "Quando o prêmio de risco é baixinho, entra muito dinheiro no país", disse. "Controles de capitais contra esse movimentos têm efeito apenas temporário e criam distorções em prazos mais longos."

Para Fraga, o problema que chama mais a atenção hoje no país são os juros, e não o câmbio, apesar das perdas que o dólar fraco cria para alguns setores da economia, como a agricultura. Ele acha que, em médio e longo prazo, os juros devem convergir para um patamar compatível com economias que têm fundamentos econômicos semelhantes aos brasileiros, como inflação de 4,5% e superávit primário superior a 4% do PIB.

Em curto prazo, os juros não devem cair devido a alguns fatores negativos que o puxam para cima, como a expansão dos gastos públicos e a memória inflacionária, e positivos, como o avanço na carteira de credito. "Esse é o momento adequado para debater controles à expansão do gasto público", afirmou. Ele sugeriu uma regra segundo a qual os gastos públicos cresceriam algo como três pontos percentuais abaixo da variação do PIB. Ou seja, se o PIB crescer 5%, os gastos poderiam avançar algo como 2%, em termos reais.